O PAI PERFEITO

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O PAI PERFEITO

 

“… Senhor, Tu és o nosso Pai. Nós somos o barro; Tu és o oleiro. Todos nós obra das Tuas mãos.” Isaías 64.8

O bom pai humano ama seus filhos e, em especial quando são de tenra idade, dependentes, zela diuturnamente por eles, cuidando de sua educação e formação, garantindo proteção e segurança e sendo um exemplo de vida para cada um.

Mas, enquanto os pais humanos são absolutamente falhos, imperfeitos, muitas vezes relapsos, displicentes, autoritários e portadores, enfim, de uma série infindável de defeitos próprios de sua humanidade corrompida pelo pecado original, somente Deus é absolutamente perfeito em tudo o que é, cria e mantém, desde a grandeza incomensurável do universo, até a pequenez de um fóton, a menor partícula sub-atômica, que sequer massa possui.

Nenhum pai humano, nem remotamente pode se equiparar ao Pai Celeste que nos criou e nos deu vida, que cuida de nós como “… a menina dos olhos”, que nos protege e guarda de todo e qualquer mal, tanto os de ordem material quanto e, especialmente, os de cunho espiritual, nos auxiliando nas provações que enfrentamos, mas também nos repreendendo quando necessário, sempre para o nosso bem, como o autor do livro de Hebreus 12.5-11 de forma tão inspirada deixou registrado: “… Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado.”

Porque Ele é Amor em Sua essência máxima, na sua mais aprimorada e sublime forma, é com esse amor incomparável, incompreensível – que permeia e dirige tudo o que criou – é que nos trata e guia pela vida afora, dia a dia, desde a nossa concepção, e que tão poeticamente declara em Isaías 44.24: Assim diz o SENHOR, que te redime, o mesmo que te formou desde o ventre materno: Eu sou o SENHOR, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espraiei a terra…”; e é este o mesmo Senhor e Pai que no mesmo livro de Isaías 43.10, nos toma nos braços e nos aquieta: “…não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel”.

Antes mesmo dos tempos eternos Ele já nos amava, apesar de saber que seríamos rebeldes, desobedientes, pecadores, egoístas e que teríamos uma série de outros defeitos, embora tivesse nos criado sem qualquer tipo de imperfeição. Mas, como Pai Perfeito que é, Seu Amor supremo, incomensurável, inexcedível, se mantém eternamente inalterado, pairando acima de tudo o que existe, seja visível, seja invisível.

Então nos perdoou por nossa irremissível traição, quando de forma tão desleal escolhemos ouvir a voz do tentador maligno antes que escutar Sua voz amorosa de Pai Criador.

Que escolha equivocada e calamitosa ousamos fazer! Através desta infidelidade covarde e injustificada, retribuindo tanto amor com desrespeito, descaso e desobediência, abrimos as portas do inferno para a entrada de todo o mal que se possa imaginar: a morte do corpo e, pior, a do espírito, o pecado, as doenças, os sofrimentos, o ódio, o desamor.  De forma inconcebível, com nossas más atitudes nos afastamos do Pai de Amor, preferindo ficar ao lado do pai da mentira.

Mas a Sua misericórdia não encontra limites, e Ele continua nos amando a tal ponto que – apesar de todo o mal que praticamos e continuamos a praticar ao longo do tempo da nossa vida no planeta – nos quer junto dEle, por isso enviou Seu Filho para sacrificar-se por nós, e  nos perdoar, resgatar, salvar  e levar-nos de volta a Seus braços amorosos sempre abertos. E esta verdade fica plenamente explicitada em 1 João 3.1, quando o apóstolo chama a nossa atenção dizendo: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo.”

Como cristãos verdadeiros, é preciso que tenhamos consciência de que é essencial perseverarmos incansavelmente na fé, sempre no poder do Espírito Santo, sabendo que Cristo revelará e complementará qualquer discrepância entre aquilo que somos e o que deveremos vir a ser, como é exemplificado pela parábola do jovem rico, no livro de Mateus 19.17-21.

Ao homem rico que O procurou desejando a vida eterna, o Senhor Jesus, no verso 17, para prová-lo em sua real vontade de buscar o caminho da salvação, disse: “… Se queres, porém, entrar na vida (eterna), guarda os mandamentos, nos versos 18 e 19 explicitando justamente aqueles mandamentos que tratam do relacionamento com os outros: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo.Redarguindo ao jovem que – cego pelo egoísmo afirmou que já fazia tudo isso e Lhe perguntava o que lhe faltava ainda – o Mestre então lhe apresenta o requisito final no verso 21: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me”.

Esta exigência, que ele intimamente não estava disposto a obedecer, levou o rapaz a afastar-se triste porque teria então que abrir mão de todos os seus bens e desfazer-se de todo o dinheiro que tinha, seguindo a Jesus em estado de pobreza, o que era para ele inadmissível. Ficava claro então que o seu deus verdadeiro era a riqueza que possuía, o que fazia com que violasse o primeiro mandamento ao expor sua indisposição para amar a seu próximo como a si mesmo.

Observamos que a palavra grega teleios, que na Bíblia é traduzida por perfeito, é empregada de uma forma especial no verso 21, não significando impecabilidade, excelência abstrata, filosófica ou metafísica, mas designando aquele que o cumpre fielmente o propósito para o qual Deus o enviou ao mundo.

Jesus sabia o tempo todo que o grande obstáculo para ele ser teleios – por isso mantendo-se fora do Reino – era o amor ao dinheiro, que representava o orgulho que o dominava, o sucesso material por ele obtido e a autossuficiência que caracterizava suas atitudes.

E o Evangelho de Marcos 10.23 registra que Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!, razão que tem impedido, ao longo dos tempos, que tantos que possuem muito dinheiro consigam entregar seus corações e suas vidas a Deus, assim tornando-se perfeitos aos olhos do Pai.

Outra questão relevante para nós crentes que remanesce nesta passagem é a seguinte: devemos vender tudo o que possuímos e entregarmos aos pobres? Por certo não é o que Deus deseja, uma vez que devemos cumprir a responsabilidade de manter a nós próprios, à nossa família e aos compromissos assumidos, principalmente aqueles que se referem ao serviço a Ele.

Jesus não ensinou que podemos ser salvos vendendo nossos bens e doando os rendimentos à caridade, uma vez que o único caminho para a nossa salvação é a fé nEle e o reconhecimento de que pecamos e não alcançamos Suas santas exigências. No entanto, não podemos deixar de sempre estar prontos a abrir mão de tudo o que do alto nos é requisitado, jamais permitindo que as coisas materiais se interponham entre nós e Deus.

Ele é o nosso modelo supremo, ideal, utópico, inalcançável, que porém devemos perseguir incansavelmente por toda a nossa vida – apesar de sabermos estar tão distantes de tal desiderato – porque é mister obedecer a este outro mandado de Jesus, agora em Mateus 5.48: “…sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.”

Para seremos perfeitos, novamente teleios como Jesus deseja que sejamos, devemos, antes de mais nada,  amar aos que nos odeiam, orar pelos que nos perseguem e mostrar bondade tanto para os amigos como para os inimigos, atingindo a maturidade espiritual que nos torna capazes de imitar ao Pai Perfeito, ministrando bênçãos a todos imparcialmente.

O Criador – cujas sublimes qualidades distintivas fundamentais são a benevolência universal, a boa vontade invencível, a busca permanente do nosso bem-estar e a dedicação de um amor sem igual para santos e pecadores como nós – concebeu o homem para ser semelhante a Ele. Quando o ser humano consegue reproduzir em sua vida a obstinada, incansável, perdoadora e sacrificial benevolência do Pai, importando-se verdadeiramente com o próximo e amando-o como a si mesmo, conforma-se à Sua imagem e, portanto, é perfeito segundo o sentido que a Escritura dá a esta palavra.

No livro de Filipenses 3.15 Paulo usa o mesmo termo teleios ao exortar seus discípulos para que o imitem rumo à perfeição, aceitando a disciplina, o esforço e as dificuldades da vida cristã, com a certeza de que Deus mostrará que um cristão não pode diminuir seus esforços para atingir aquela meta que, como atletas de Cristo, devemos perseguir: “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.”

Mas, em termos objetivos, em que áreas prioritárias precisaremos sofrer transformação para sermos filhos perfeitos como o Senhor deseja que sejamos?

Em primeiro lugar, quanto ao caráter, para isto rogando ao Espírito que nos faça mais semelhantes a Cristo e nos empenhando ao máximo na obediência à Palavra; em segundo lugar, no que tange à santidade, buscando sempre as coisas do alto e evitando cultivar valores mundanos que nada acrescentam, nem à nossa vida terreal e, muito menos, à eterna; em terceiro lugar, no que concerne à maturidade – tendo consciência de que, assim como Deus criou-nos adotando condutas apropriadas a cada uma das fases de nossa vida aqui na terra – seja como bebês, meninos, adolescentes ou adultos – espera que nossas atitudes como cristãos maduros sejam de um nível condizente com esta condição; e, em quarto lugar, vivendo em amor, amando aos outros como Deus nos ama, pois Ele nos chamou para atingirmos o nível de excelência expresso em 1 João 3.2: Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.

Oremos, pois, agradecidos pela graça de termos o Pai Perfeito que almeja que sejamos a cada dia mais assemelhados a Ele:

Pai Eterno que habitas os mais altos céus, que o Teu santo e glorioso nome seja para sempre exaltado acima de tudo o que existe;

que o Teu propósito soberano se cumpra em todo o Teu reino, tanto na terra como no céu;

Senhor, não deixe de nos prover a cada dia do alimento para o corpo, mas sobretudo que nunca nos falte o nutrimento essencial para o espírito que é Cristo Jesus;

perdoa, Pai, os nossos pecados, da mesma maneira como temos perdoado aqueles que pecaram contra nós;

e não permita, Senhor,  que as tentações do mundo nos façam desobedecer à Tua Palavra, mas protege-nos dos ataques, das artimanhas e da influência deletéria do maligno. Amém.

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