CORPO E ESPÍRITO (1)

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CORPO E ESPÍRITO (1)

Aquele cristão “morno” certo dia protestava à saída do culto, reclamando que não fazia sentido ir à igreja todos os domingos: “Frequento esta igreja há mais de 30 anos, já ouvi uns 3.000 sermões, mas não consigo lembrar de nenhum deles. Acho que tenho perdido o meu tempo…”. Outro cristão, que ouvia pacientemente o destempero daquele homem, então disse: “Eu estou casado há 30 anos. Em três décadas minha esposa deve ter preparado mais de 30.000 refeições, e não consigo me lembrar do cardápio de nenhuma delas. Mas uma coisa eu sei: todas elas me nutriram e me deram a força que eu precisava para viver dia após dia. Se minha esposa não tivesse preparado estas refeições para mim, eu estaria hoje fisicamente morto. Da mesma maneira, se eu não tivesse ido à Igreja para alimentar meu espírito, estaria agora morto espiritualmente.”

 

Deus criou o homem perfeito em todos os seus processos orgânicos, mas após a Queda tudo no seu ser foi se distorcendo progressivamente sob o comando de seu espírito caído, todos os sistemas que compõem seu corpo físico foram sendo comprometidos pelas doenças e pela degenerescência prematura: digestão, respiração, circulação, sistema nervoso, músculos, sistema urinário, ossos, cérebro.

 

Vivemos em um mundo hedonista, onde tudo justifica a busca pelo prazer pessoal, pelo deleite dos sentidos, em especial do sexo e da comida. Além disso, por uma questão de praticidade e de limitação de tempo para o almoço, atualmente nas grandes cidades muito poucas pessoas fazem suas refeições em casa, ficando assim à mercê dos “fast-foods”, salgadinhos e outros alimentos tão deletérios para o corpo.

 

E em casa, especialmente agora, confinados por causa da pandemia do coronavírus, o que fazemos? Temos fome, abrimos a geladeira; sentimos calor, abrimos a geladeira; estamos solitários, abrimos a geladeira; frustrados com o que está acontecendo no país de no mundo, abrimos a geladeira; quando deprimidos, abrimos a geladeira.

 

Para cada situação de insatisfação, solidão, depressão, insegurança e tristeza, buscamos o bálsamo da comida. E quanto mais se come, mais se perde o controle, desencadeando um sentimento de frustração, ansiedade e culpa que gera uma grande insatisfação consigo próprio, com as pessoas à nossa volta e com o mundo.

 

Segundo os psicólogos, comer em excesso é um comportamento compulsivo que se manifesta em decorrência de problemas em vários planos como o emocional, o sexual, o social, o financeiro, e outros, sendo por isso um indicador importante do momento e grau de desequilíbrio que a pessoa está vivenciando. Exprime-se por meio de um descontentamento total e irrestrito consigo mesmo, e a tentativa de encontrar um paliativo para esta angústia desencadeia sentimentos de inutilidade e ansiedade que só são aplacados pelo devastador e incontrolável assalto à fonte de prazer que traz compensação ao desgosto sentido.

 

Contudo, os especialistas dizem que devemos comer só quando temos fome, e não por outros motivos, como tédio, solidão, estresse ou medo. Não podemos transformar a comida numa solução para tudo na vida e ainda assim esperar sermos magros e saudáveis. Se comemos por tédio, descubramos e adotemos um passatempo; se queremos aliviar o estresse, saiamos de casa a caminhar rogando a Deus por paz e serenidade; se advém-nos o temor, oremos, pedindo a Ele orientação e força.

 

Jesus, em João 6.53-58, coloca aos judeus a questão crucial da alimentação na perspectiva correta, tanto pela dimensão material quanto pelo ângulo espiritual: “… Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente.”

 

Ou seja, o Salvador nos ensina que, assim como o homem precisa comer e beber para manter a sua vida física aqui na terra, necessita apropriar-se dEle, estar nEle para almejar a vida eterna. Mas enquanto existem diversos tipos de alimentos materiais importantes que Deus criou para nutrirmos nosso corpo físico, o único, necessário e suficiente alimento espiritual é Cristo. Será que temos consciência plena, permanente e grata de que é Deus quem provê toda a diversidade de alimentos que se complementam entre si para suprir as necessidades de nosso corpo físico e nos deu Seu Filho para nos dar a vida espiritual e a tenhamos em abundância?

 

E, ainda mais importante, qual é o nível de consciência que temos de que Jesus está à porta do nosso coração, aguardando pacientemente que O acolhamos, persistentemente desejando achegar-Se a nós como declarou em Apocalipse 3.20, ao anunciar mansamente: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”.

 

Em João 6.26-27, nosso Senhor já havia repreendido as multidões porque O seguiam sôfregas, não em busca do alimento do espírito, mas sim da comida material, afirmando: “… Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo.” Que Deus permita que tal repreensão jamais nos caiba!

 

(CONTINUA NO PRÓXIMO FIM DE SEMANA)

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