No centro cirúrgico daquele grande hospital, uma jovem e inexperiente enfermeira enfrentava seu tão esperado primeiro dia de atividade profissional, auxiliando em uma cirurgia. Atenta à operação, após o cirurgião ter concluído seu trabalho, observou nervosamente: “Doutor, o senhor retirou 11 esponjas, e nós usamos 12.” Com uma certa irritação, o médico redarguiu sem olhar para ela: “Nós removemos todas. Vamos fechar a incisão agora mesmo.” Apesar da ordem peremptória, a enfermeira em tom de súplica ousou continuar objetando: “Mas doutor, tenho certeza de que ainda falta uma.” Demonstrando muito aborrecimento, o cirurgião esbravejou: “Eu assumo a responsabilidade! Suture!” O desespero da enfermeira era total quando gritou: “O senhor não pode fazer isso! Pense no paciente!” Neste momento então o médico sorriu, mostrando a ela a 12 a esponja e dizendo: “Parabéns, você está aprovada; eu estava testando sua integridade para saber até onde posso contar com você”.
Integridade é antônimo de corrupção, vem do latim integritate, e significa a qualidade de alguém ou algo que é íntegro, tem conduta reta, é um indivíduo de honra, ético, educado, brioso, cujo agir expressa inocência e pureza, que é justo e perfeito, puro de alma e de espírito. Uma pessoa íntegra não se vende por vantagens momentâneas e aparentes, infringindo as normas e as leis, prejudicando a outrem por motivo fútil e incoerente, pois sabe que a moral de uma pessoa não tem preço.
Nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram testados por Deus no Jardim do Éden, e, ao contrário desta enfermeira, foram reprovados em seu teste de integridade, como está registrado em Gênesis 3.1-7 (Bíblia Viva): “De todos os animais que Deus criou, o mais astuto era a serpente. A serpente aproximou-se então perguntou à mulher: ‘Será verdade?! Nenhuma fruta do jardim?! Deus disse que vocês não podem comer nem uma só fruta?!’ ‘Claro que podemos!’, respondeu a mulher.’ Só a fruta da árvore que está no meio do jardim é que não podemos comer. Deus disse que não podemos comer fruta daquela árvore, e que não podemos nem pôr as mãos nela porque se não, morreremos’. ‘É mentira!’, contestou a serpente.’Vocês não morrem não! Deus sabe muito bem que se vocês comerem essa fruta, no mesmo instante vocês ficarão como Ele, pois os seus olhos se abrirão. Vocês vão ficar sabendo distinguir entre o bem e o mal!’ A mulher acreditou nisso. Então achou que a fruta era boa para comer. Agora a árvore parecia tão bonita! E parecia boa até para dar sabedoria! Pensando assim, ela apanhou uma fruta e comeu. Deu ao marido, e ele comeu também. Mal acabaram de comer, ficaram conscientes da nudez em que estavam, e se encheram de vergonha. Então juntaram folhas de figueira e fizeram aventais para se cobrir.”
Este foi o primeiro ato humano de corrupção, quando o homem e a mulher desobedeceram a Deus, insuflados por satanás, e caíram miseravelmente da graça divina, trazendo sobre si e sobre toda a sua descendência o mal do qual estavam até então protegidos: morte, enfermidades, pecado, dor, tristeza. E desde aquele dia até os dias de hoje, Deus nos testa a todo o instante, para saber até onde pode contar conosco para a construção do Seu reino eterno, que irá recompor o reino perfeito, maravilhoso, que de início havia criado, e que o pecado humano corrompeu e resultou no mundo pervertido em que vivemos.
Ao longo da história da humanidade, no entanto, apesar de que sobre todo o ser humano recaíram as consequências do pecado, a Bíblia registra a existência de uns poucos homens que se revelaram íntegros, aqueles com quem o Senhor podia contar. Entre eles Noé, certamente um dos expoentes em termos de fidelidade e confiança no poder de Deus; e porque era fiel e obediente, era também íntegro: “… Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus.” Gênesis 6.9 (ARA).
Graças à integridade de Noé, e por amor a ele, Deus poupou a raça humana de mais um cataclismo de dimensões planetárias. E espera que sejamos santos como Ele é (Levítico 20.7), para podermos estar um dia a contemplar Sua divina face (Salmo 11.7), apesar de vivermos em um mundo corrompido e corruptor. Pura graça divina, mas também é preciso que façamos o que Paulo insta em Romanos 12.2 (NTLH): “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele.”
Quem semeia para a carne, isto é, investe fortemente na matéria corrompida e corruptível, só pode esperar uma colheita de corrupção e desastre pessoal e familiar. Como Paulo afirma em Gálatas 6.7 (NVI): “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá.” Ao pecarmos, violamos o propósito que o Criador tem para nós, esquecemos que fomos feitos à Sua semelhança, e que na essência somos seres espirituais, antes que carnais. Na verdade, nossa tendência natural é ter prazer interior na Lei de Deus, como Paulo ensina em Romanos 7.22 (NVI): “Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus”. A violação da vontade de Deus, portanto, é a decisão de voltar-nos contra nós próprios e contra o agir do Espírito Santo em nós, à semelhança da afirmação de Paulo em Romanos 7.15 (NVI): “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio.”
No Brasil a corrupção tem afetado ao longo dos tempos – mas em especial nas últimas décadas – o próprio bem-estar dos cidadãos, provocando uma forte diminuição dos investimentos públicos em saúde, educação, segurança, infraestrutura urbana e interurbana, entre outros direitos do cidadão, essenciais à sua qualidade de vida, atentando contra a própria Constituição Federal ao produzir um aumento significativo da desigualdade socioeconômica e da exclusão social.
Várias entidades, entre elas FGV, FIESP e CNI, têm realizado estudos independentes confiáveis que mostram que a economia do país perde por efeito da corrupção, algo em torno de um a quatro por cento do PIB, ou seja, um valor aproximado de 100 bilhões de reais todos os anos.
A Operação Lava Jato nos anos recentes produziu a maior investigação de corrupção da história brasileira, revelando uma situação de corrupção sistêmica no país, isto é, a corrupção passando a fazer parte integrante do próprio sistema, demonstrando a ausência de compromisso ou de interesse pelo bem comum.
Para citar só alguns exemplos: em 2015 o Instituto Datafolha realizou uma pesquisa de opinião pública que indicou que o maior problema brasileiro citado é a corrupção; o Departamento de Justiça dos Estados Unidos considerou recentemente o esquema de corrupção do Grupo Odebrecht como o maior pagamento de propina da história mundial; e a Diretoria de Combate ao Crime Organizado (DICOR/PF) concluiu que, só a partir de 2013 as perdas para a economia brasileira chegaram a valores próximos de 123 bilhões de reais.
E a corrupção parece ter desembarcado no Brasil já a bordo da primeira caravela, tendo se instalado, portanto, desde os tempos do Brasil colônia. E as mesmas práticas usadas pela elite colonial se perpetuam até os dias atuais nas atitudes daqueles que se dizem representantes do povo. A historiadora Adriana Romeiro em seu livro Corrupção e Poder no Brasil cita que “dizia-se que era preferível ser roubado por um pirata em alto-mar do que aportar no Brasil. A elite colonial é a mesma que está hoje no poder, com a mesma mentalidade de estar numa terra em que se pode enriquecer sem qualquer escrúpulo”.
Mas como nós cristãos devemos nos comportar no dia a dia deste mundo e deste país tenebroso e corrupto em que vivemos? Basta lembrarmos de como Jesus – em Mateus 5.13 (NVI) – qualificou-nos: “Vocês são o sal da terra…” Esta expressão do Mestre tornou-se o maior elogio que pode ser feito a um homem ou a uma mulher – sublinhando o valor, a estatura moral, a capacidade, a solidez de caráter de alguém – e relaciona-se com as ideias de pureza, de preservação e de sabor. Os romanos diziam que o sal era o elemento mais puro do mundo, porque provinha das duas coisas mais puras que existiam, o sol e o mar, e toda a oferenda do culto sacrificial judeu era acompanhada de um pouco de sal, para lhe conferir pureza; no mundo antigo, o sal era o mais utilizado de todos os preservadores, pois impedia a corrupção da carne, e até os dias atuais, o sal condimenta os alimentos, dando-lhes o sabor que agrada ao paladar.
Por isso – para nós cristãos sermos o sal da terra – precisamos ser exemplos de pureza onde quer que estejamos; devemos cumprir uma certa função antisséptica na vida, em todas as situações e circunstâncias, posicionando-nos frontalmente contra a corrupção de qualquer tipo; e como embaixadores de Cristo, proclamadores da Sua Palavra, devemos fazer toda a diferença na vida de quantos pudermos, não importa a condição de tempo, lugar ou modo, pois o sal está para o alimento assim como o cristianismo está para a vida na terra.
Grandioso Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, imersos neste mundo pejado de corrupção, entregamos nossas vidas em Tuas preciosas mãos para que tudo faças segundo a Tua soberana e perfeita vontade. E sabemos que a Tua vontade é que nos mantenhamos infensos a todo o mal que nos cerca, por isso declaramos que somos totalmente dependentes de Ti, que precisamos desesperadamente de Ti, que carecemos da Tua força para sermos sal e luz por onde andarmos, como Tu desejas. É em nome de Cristo Jesus que oramos. Amém.
