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AMABILIDADE

Nestes tempos dramaticamente sofridos que vivemos por conta da pandemia do covid-19, infelizmente tornou-se comum as pessoas, tomadas por estresse, incertezas e medos, manifestarem atitudes mais impacientes, grosseiras, rudes e explosivas no relacionamento interpessoal, inclusive no meio cristão. Isto vai na contramão daquilo que Deus demonstra no tratamento dispensado a nós que nada merecemos a não ser condenação, mostrando que exatamente o oposto, isto é, que a amabilidade é que deve reger a nossa conduta, não importam as circunstâncias.

 

A propósito disso, uma conhecida fábula conta que certo dia o sol e o vento discutiam sobre quem era o mais forte dos dois, e como não chegavam a nenhuma conclusão, o vento propôs um desafio que, segundo ele, tiraria todas as dúvidas a respeito: “Está vendo aquele homem lá embaixo, vestindo um casaco marrom? Aposto que posso fazê-lo tirar seu agasalho mais rápido que você!” O sol então respeitosamente escondeu-se atrás de uma nuvem para deixar o vento soprar, o que ele fazia com toda a força que podia, quase transformando-se em um vendaval. Mas, quanto mais o éolo rugia, mais o homem apertava seu casaco junto ao corpo, até que o vento por fim desistiu. Foi quando o sol graciosamente surgiu por detrás da nuvem, sorrindo para o homem com bondade e afetuoso calor, o que fez com que ele decidisse, feliz, desvestir seu agasalho. Moral da história: a amabilidade é sempre mais forte que a força bruta, e atitudes amáveis costumam falar mais alto do que somente palavras amáveis.

 

O comentarista bíblico William Barclay, a propósito da dicotomia entre palavras x atitudes, escreveu que “boas palavras nunca tomarão o lugar de bons atos; e nenhuma quantidade de conversa sobre o amor cristão tomará o lugar de um ato amável para um homem em necessidade, envolvendo certo grau de sacrifício próprio, pois nesse ato o princípio da cruz opera novamente”.

 

A partir do momento em que Deus nos criou à Sua imagem e semelhança, todos os seres humanos adquiriram a capacidade de exercitar a virtude da amabilidade para ser uma marca distintiva dos Seus Filhos na vida terreal. Enquanto o mundo nos dias de hoje considera que a amabilidade é uma fraqueza, a Palavra de Deus ensina que a amabilidade é uma característica nobre, é a aplicação prática do amor, é a consideração gentil e atenciosa para com as necessidades do próximo, como Paulo explica em 1 Coríntios 13.4-5 (Bíblia Viva): “O amor é muito paciente e bondoso, nunca é invejoso ou ciumento, nunca é presunçoso nem orgulhoso, nunca é arrogante, nem egoísta, nem tampouco rude. O amor não exige que se faça o que ele quer. Não é irritadiço, nem melindroso. Não guarda o rancor e dificilmente notará o mal que outros lhe fazem.”

 

Por isso tudo, a amabilidade é uma qualidade indispensável ao verdadeiro cristão: se Deus trata-nos com amabilidade, apesar de não termos qualquer merecimento, e se almejamos a semelhança com Cristo, devemos agir da mesma maneira com o nosso próximo, atendendo ao que Paulo exorta em Colossenses 3.12 (NVI): “Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.”

 

Devemos, portanto, ser exemplos de amabilidade a todos os que se achegam a nós, quer mereçam, quer não, porque a amabilidade de Cristo é o nosso modelo e referência de vida; a amabilidade é o amor andando a milha extra com alguém, é o amor sempre voltado para o bem, é o amor expresso na prática cotidiana. Ninguém consegue amar de verdade sem a presença da amabilidade, não se pode amar sem ser amável, nem se pode ser amável sem amar.

 

Em suma, a amabilidade, juntamente com o amor, a alegria, a paz, a paciência, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio, compõe o fruto do Espírito, como descrito pelo apóstolo em Gálatas 5.22-23 (NVI), e precisamos nos revestir dela desde o momento em que acordamos pela manhã, da mesma forma como vestimos nossa roupa.

 

Demonstrar amabilidade a alguém é fazer o que Cristo faria em nosso lugar, como Ele próprio ensina em Lucas 6.35 (NVI): “Amem, porém, os seus inimigos, façam-lhes o bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta. Então, a recompensa que terão será grande e vocês serão filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso até para com os ingratos e maus.” A amabilidade é também nossa retribuição ao amor incondicional de Deus, e Paulo em Romanos 12.14 (NVI) exorta: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem.”

 

Atos de amabilidade sempre fazem muita diferença, e as histórias que relatam seu efeito sobre as pessoas são muitas, algumas até mesmo representando a salvação para elas. É o caso verídico de um jovem cristão queniano que estudava na Noruega, e que nas férias ia de porta em porta vendendo livros cristãos, quando encontrou um cidadão que, ao abrir a porta de sua casa, de forma pouco amável, ao ver a cor de sua pele, disse-lhe bruscamente e sem rodeios: “Não creio em Deus”.

 

O rapaz então olhou para o homem com um sorriso nos lábios e em seu precário norueguês, pediu: “Por favor me conceda um minuto para lhe dizer o que me trouxe do Quênia para a sua porta.” Ele sabia que muitas pessoas na Noruega não creem em Deus, e então lembrou-se do sábio conselho de Provérbios 15.1,4 (NTLH) que ensina que “A resposta delicada acalma o furor, mas a palavra dura aumenta a raiva. As palavras bondosas nos dão vida nova…”. E foi esta resposta mansa e suave que então impactou favoravelmente o homem que, embora ainda um pouco hesitante, deixou o rapaz entrar. A certa altura da conversa, confidenciaram suas experiências um ao outro, o norueguês comprou alguns livros, e por fim até ensinou o estudante a tocar violão!

 

As palavras são instrumentos importantes que Deus colocou à nossa disposição para demonstrarmos amabilidade – o que nos outorga alta responsabilidade – pois têm a faculdade de afetar nossos interlocutores para o bem ou para o mal, podendo até mesmo a influir no rumo de suas próprias vidas.

 

Mas agir com amabilidade é um privilégio e um dever que Deus nos concede e que nos permite levar a alegria, a paz, a concórdia e a luz de Cristo às pessoas, ao mesmo tempo que nos predispõe à comunhão com o Senhor, por isso se somos salvos, se somos verdadeiros crentes, se pertencemos à Sua família, é imprescindível que nos comuniquemos e ajamos sempre com amabilidade.

 

No Sermão do Monte – na passagem de Mateus 5.43-48 – Jesus nos conclama a sermos perfeitos como perfeito é o nosso Pai celeste, amando nossos inimigos, orando pelos que nos perseguem, usando de amabilidade com os que não nos tratam assim, saudando os que não são nossos irmãos, desta maneira agindo como luminares para este mundo em trevas.

 

Agora reflitamos com sinceridade por instantes sobre a amabilidade, a benignidade de Deus para conosco. Será que a merecemos? Será algo que o Senhor deve a nós? Será que nossos pensamentos, nossas atitudes, nossas palavras dirigidos aos outros, são tão santos, amáveis e amoráveis, altruístas, elevados, que Ele, por ser justo, não encontra alternativa senão recompensar-nos na mesma moeda? Provavelmente nossa resposta será um redondo não. Mas mesmo sendo como somos, Ele nos ama e trata-nos com uma amabilidade incomparável, de um padrão inalcançável por nossos próprios meios.

 

Aquela mulher reclamava todos os dias para o marido, olhando pela janela e criticando a falta de capricho e de limpeza da vizinha do lado. Através da vidraça ela via, todas as vezes que a vizinha lavava roupa, a cor de sujeira que elas apresentavam. Até que um dia, ao vigiar as roupas da vizinha, como era seu costume, tomou um susto: as roupas estavam limpas, as brancas branquíssimas, as de cor coloridíssimas, então comentou acidamente com o marido: “Até que enfim a vizinha aprendeu a lavar roupa. Quem será que a ensinou?” Ao que o marido, incontaminado pela falta de afabilidade de sua esposa, sorrindo amavelmente, confidenciou-lhe: “Hoje bem cedo levantei da cama e limpei nossas vidraças…”.

 

Como este homem tão exemplarmente demonstrou, uma das formas mais marcantes de expressar amabilidade – ao lado dos atos de bondade – é pela maneira de nos comunicarmos com as outras pessoas, por isso é através de nosso falar que em boa medida criamos a atmosfera do lar. Se nossas palavras são amáveis e pronunciadas com afeto, geramos um ambiente harmônico e afetuoso, e as pessoas sentirão prazer em estar juntas; se, ao contrário, são rudes e ditas com rispidez, o clima doméstico torna-se opressivo, desagradável, dissonante, e os membros da família tenderão ao afastamento uns dos outros e ao isolamento.

 

Por que às vezes nos falta amabilidade? Há um conjunto de fatores que inibem a sua manifestação: antes de mais nada, é difícil ser amável se não temos a plenitude do Espírito Santo, e assim falta-nos domínio próprio; ser amável acima de tudo é uma decisão, tanto quanto amar o é, portanto precisamos querer ser amáveis; por outro lado, se estamos autocentrados em nossos problemas, sem saber como resolvê-los, “de mal” conosco mesmos, nossa “agenda oculta” coloca dificuldades para sermos gentis, pois estaremos irritadiços, pouco sociáveis, “de relações cortadas” com o mundo; quando nos sentimos, por alguma razão, inseguros perante outra pessoa, considerando-nos de alguma forma ameaçados, dificilmente seremos amáveis; a amabilidade é também um hábito, que algumas pessoas adquirem na infância, geralmente aprendendo com os pais; trata-se, além disso, de uma questão de temperamento.

 

A Bíblia demonstra – pelo que revela das vidas de alguns dos heróis da fé – que as pessoas de temperamento sanguíneo, se não estiverem controladas pelo Espírito Santo, têm uma certa dificuldade de ser amáveis, como o apóstolo Pedro, antes e depois de Pentecostes. Os coléricos igualmente desconhecem a amabilidade, até serem cheios do Espírito, como o apóstolo Paulo; já para os melancólicos como Moisés, e em especial para os fleumáticos como Abraão, parece ser mais fácil usarem de amabilidade com os outros.

 

Fica claro, no entanto que, seja qual for o nosso temperamento, nossos problemas, nossa formação familiar ou nossos hábitos, somente o Espírito Santo pode nos transformar de pessoas rudes, ríspidas e pouco gentis, em pessoas mansas, amáveis, corteses e atenciosas. Por isso é essencial termos a plenitude do Espírito para sermos verdadeiramente amáveis sempre, e não apenas socialmente polidos ou gentis – o que geralmente é mais fácil ser em ocasiões esporádicas.

 

A amabilidade deve fazer parte de nossa maneira de ser, da mesma forma como estava profundamente integrada ao caráter do Senhor Jesus, e não constituir-se meramente em uma característica “de fachada”, em um simples verniz com o qual tentamos encobrir nosso real perfil, uma máscara que usamos segundo as conveniências do momento.

 

Ela precisa ser uma virtude que estabelece um diferencial claro da nossa presença como cristãos no mundo, “… para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo”. (Filipenses 2.15 – NVI).

 

Senhor, Tu que és amor e nos trata com tanta amabilidade, constrange-nos a sermos como Tu. Que todos os nossos atos sejam – dia após dia – expressões de autêntica amabilidade, marcas distintivas que caracterizam os Teus luzeiros, os Teus arautos, os Teus filhos onde quer que estejam. Nunca permita, ó Pai, que o mundo, a nossa carne ou satanás, nos desviem do caminho ascendente que leva a Ti, e que Teu Santo Espírito produza em nós corações cheios de amabilidade que transbordam por meio de lábios amáveis. Em nome de Jesus Cristo oramos e agradecemos. Amém.

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GALARDÃO INEFÁVEL

“… Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem”. Hebreus 2.9 (ARA)

 

Jesus Cristo, Deus encarnado, por amor a nós que nada merecemos a não ser condenação, desceu do céu a Belém, ao Getsêmani, ao Gólgota e à sepultura, em estágios progressivos de humilhação. Mas Seu sofrimento e morte conduziu-O ao galardão inefável, sendo coroado de glória e de honra. O propósito gracioso do Pai ao permitir o martírio de Seu amado e único Filho era que Ele morresse pela humanidade coberta de culpa, como nosso representante e substituto, suportando na cruz o julgamento contra o pecado de todo homem, para que aqueles que nEle creem sejam salvos e recebam a vida eterna! 

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FALSOS ADORADORES

“… O filho respeita o pai, e o escravo respeita o seu senhor. Se eu sou o pai de vocês, por que é que vocês não me respeitam? Se eu sou o seu senhor, por que não me temem?…”. Malaquias 1.6 (NTLH)

 

Os judeus haviam retornado à Palestina após o cativeiro babilônico, reconstruído Jerusalém e o segundo templo, mas o entusiasmo inicial se esvaíra, os sacerdotes não davam bons exemplos espirituais, eram relapsos, negligentes, e a adoração a Deus não mais se fazia da forma prescrita por Ele, tendo se tornado algo mecânico e rotineiro. Paulo, em Romanos 12.1 ensina que a nossa vida deve ser um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, pois se damos a Ele apenas o tempo, o dinheiro e a dedicação que nos sobram, estaremos repetindo o agir pecaminoso daqueles falsos adoradores que o Senhor abominava!

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