Autossuficiência

,

Autossuficiência

Um conhecido teólogo, pastor e escritor cristão certa vez escreveu: “Pessoas autossuficientes, mais dia, menos dia, serão trazidas por Deus para um lugar onde não encontrarão nenhum recurso a não ser o Seu poder, nenhuma resposta a não ser a Sua Palavra, nada exceto Ele mesmo, e descobrirão então que sem o Seu auxílio estarão completamente perdidas.” Contou então que um dia foi procurado por um homem em desespero que confessou-lhe: “Minha vida está péssima. Perguntei-lhe então o que ele queria dizer com aquela afirmativa. Está tudo tão terrivelmente mau que só me resta Deus, disse amargurado. Então não pude esconder um sorriso ao dizer-lhe: Você não imagina como fico contente porque, se só lhe resta Deus, você tem mais que o suficiente para seguir seu caminho na melhor companhia que alguém poderia desejar. E embora este caminho nem sempre seja o mais fácil, se o entregar em Sua mãos e confiar nEle, receberá bênçãos hoje inimagináveis e um dia você concluirá que era o melhor para a sua vida, não apenas no presente mas principalmente no futuro!”.

Até mesmo nós cristãos – mesmo que apenas em momentos fugazes nos deixemos influenciar pelas coisas do mundo, – corremos o risco de esquecer que para Deus ser o centro de nossas vidas é necessário que tudo – absolutamente tudo – seja entregue em Suas mãos todos os dias, em todos os momentos e circunstâncias.

O próprio Davi, “o homem segundo o coração de Deus”, teve ocasiões em que esteve tão egocentrado que parece ter-se esquecido de que Deus deve ter sempre a primazia na vida dos Seus, como neste episódio relatado em 1 Crônicas 21.1-4,7-8 (ARA):Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel. Disse Davi a Joabe e aos chefes do povo: Ide, levantai o censo de Israel, desde Berseba até Dã; e trazei-me a apuração para que eu saiba o seu número. Então, disse Joabe: Multiplique o SENHOR, teu Deus, a este povo cem vezes mais; porventura, ó rei, meu senhor, não são todos servos de meu senhor? Por que requer isso o meu senhor? Por que trazer, assim, culpa sobre Israel? Porém a palavra do rei prevaleceu contra Joabe; pelo que saiu Joabe e percorreu todo o Israel; então, voltou para Jerusalém. (…) Tudo isto desagradou a Deus, pelo que feriu a Israel. Então, disse Davi a Deus: Muito pequei em fazer tal coisa; porém, agora, peço-te que perdoes a iniquidade de teu servo, porque procedi mui loucamente.

Em princípio, promover a contagem do povo de Israel, não era algo necessariamente mau, ao contrário do que possa à primeira vista deixar transparecer o texto bíblico. Afinal, que mal existe, por exemplo, na atitude do pastor de uma igreja desejar conhecer o número de ovelhas do seu rebanho? Mas Deus lê o coração humano, e é nele que reside todo o mal, nesse caso a potencial autossuficiência, a soberba que põe a perder as ações mais singelas do homem, e não há pecado mais ofensivo ao Senhor que o orgulho, que no dia do julgamento, como Isaías 2.12 (ARA) alerta, receberá a paga devida: Porque o Dia do SENHOR dos Exércitos será contra todo soberbo e altivo e contra todo aquele que se exalta, para que seja abatido…”.

E Davi, naquela oportunidade, como nós mesmos muitas vezes o fazemos, agiu com autossuficiência e soberba, tomando uma decisão autocrática que expressava falta de confiança no poder de Seu Senhor a quem tudo devia, Aquele que havia escolhido Israel para ser o Seu povo; o Deus Todo-Poderoso cujo cuidado paterno vinha se manifestando com fidelidade ao longo do tempo por meio de milagres, bênçãos sem conta, orientações, conselhos e admoestações, sustentando-os, protegendo-os e provendo-os de tudo o que necessitavam. O mesmo cuidado amoroso que em 1 Crônicas 17.8 (ARA) reafirmara, lembrando a Davi que “…fui contigo, por onde quer que andaste, eliminei os teus inimigos de diante de ti e fiz grande o teu nome, como só os grandes têm na terra.

E agora Davi, que pouco antes, como registrado em 1 Crônicas 17.16-27 louva a Deus pela Sua grandeza, reconhecendo agradecido todas as bênçãos dEle recebidas, resolve decretar por si mesmo a execução do censo, como se Deus não tivesse nada a ver com aquilo, e ele, Davi, de repente não mais dependesse do Senhor! Isso não lembra o deplorável esquecimento que às vezes acomete a nós mesmos frente a decisões relevantes que tomamos sem ouvir ao Senhor?

Davi, ao resolver fazer a contagem do povo, no fundo desejava sentir-se orgulhoso do poderio de seu exército, e começava a confiar mais em seu poder militar que no poder de Deus. Isto mostra a tênue linha que separa a dependência humana de Deus da arrogância advinda daquilo que só pela Sua graça somos galardoados, como ascendência sobre outras pessoas, recursos financeiros, saúde, conhecimento, projeção social, cargos de relevo. Essa é uma demonstração de como é fácil nos esquecermos de que, se Deus nos concede dons, talentos e responsabilidades, não é para nossa própria exaltação, mas unicamente para a Sua glória!

Da mesma forma como satanás incitou Davi a realizar o censo, tentando-o até que o rei decidiu fazê-lo, da mesma forma age com o ser humano desde o Jardim do Éden, incansavelmente tentando-nos a pecar. Com o exemplo de Davi aprendemos que, mesmo que um determinado ato, de per si não seja pecaminoso, pode tornar-se iníquo caso envolva arrogância, cobiça ou egoísmo, porque geralmente a origem de nossos pecados está nos motivos que nos movem, mais do que em nossas ações. Por isso é preciso mantermo-nos alertas, avaliando constantemente o que no fundo nos motiva em cada circunstância, antes de agirmos.

É muito fácil cairmos nas armadilhas do diabo caso nos sintamos autossuficientes, caso não depositemos nossa confiança irrestrita em Deus, porque uma das especialidades do maligno é aproveitar-se dessas ocasiões de fragilidade em que por vezes caímos por causa de nossos corações enganadores e de nossos raciocínios carnais. Foi assim que tentou Eva, argumentando astuciosamente que desobedecer a Deus naquela circunstância não seria pecado, e alegando que haveria muitas vantagens na recusa de acatar as ordens divinas, o que costuma usar até hoje com frequente sucesso.

Por tal razão, é necessário nos mantermos alertas para escapar das tentações, examinando acuradamente os desejos que habitam nossos corações em determinados momentos, procurando compreender por que aquela tentação está nos atraindo, sempre recordando o que Paulo nos ensina em 1 Coríntios 10.13 (ARA): Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.

Quando Davi se deu contra de seu pecado, assumiu-o e pediu o perdão de Deus. Muitas pessoas, no entanto, querem ser perdoadas e continuar sendo abençoadas, porém recusam-se a reconhecer seus pecados. Nós devemos agir como Davi, admitindo a plena responsabilidade por nossas transgressões, confessando-as contritos a Deus, para que então ele nos perdoe e prossiga Sua obra em nós.

Não podemos também ignorar que, uma vez cometido o pecado, inevitavelmente colheremos seus efeitos nefastos, como aconteceu com Davi, e pensar nas consequências antes do cometimento do pecado é uma atitude salutar e sábia que pode nos poupar e a outras pessoas de muita dor e sofrimento. É por isso que Jeremias 5.25 (ARA) admoesta que “… os vossos pecados afastam de vós o bem”, e Paulo em Gálatas 6.7 (ARA), alerta: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”.

Senhor Deus de misericórdia e graça, fortalece a nossa fé, dá-nos humildade e sabedoria para agirmos sempre de acordo com a Tua vontade, jamais deixando-nos tentar pelo canto de sereia do maligno, que sem tréguas nos assedia buscando a nossa perdição afastando-nos de Ti. Em nome de Jesus Cristo assim oramos com gratidão por tudo o que já fizeste, continuas a fazer e ainda farás em nossa vida. Amém.

Share
Nenhum comentário

Publicar um comentário