Aproveitar a Vida

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Aproveitar a Vida

No linguajar mundano, “aproveitar a vida” significa extrair todo o prazer carnal que a existência pode oferecer, custe o que custar fazendo tudo o que se deseja, divertindo-se e curtindo ao máximo os prazeres, fazendo tudo o que se sente vontade de fazer, o que geralmente está diretamente ligado a glutonaria, bebedeiras, sexo livre, baladas, drogas, frivolidades e desmandos.

Pode-se afirmar com segurança que Salomão foi um homem que se dedicou a “aproveitar a vida” como poucos: rei de Israel, podia tudo, possuía tudo, desfrutava de tudo. Célebre por sua sabedoria, por sua riqueza inigualável e por suas oportunidades de usufruir de prazeres variados, mas também por seus grandes empreendimentos construtivos, chegou ao fim da vida considerando que, sim, deve-se desfrutar da vida em tosa as suas possibilidades porque ela é um dom de Deus, porém é preciso estar ciente de que o homem realmente sábio viverá sempre em total obediência a Deus (embora ele mesmo tenha sido desobediente e sofrido as consequências), com a certeza de que, ao fim e ao cabo, o Senhor julgará a todos.

O indivíduo mundano não tarda a achar a vida frustrante, porque busca a verdadeira felicidade e realização onde é ilusório encontrá-la: no mundo e nos seus valores. Somente o cristão pode gozar realmente a vida na sua plenitude diária, porque ele sabe que sua realização só é alcançada através do serviço cotidiano a Deus, como bem demonstra o livro de Eclesiastes, obra de Salomão, ao fazer a sábia apreciação em 2.23-26 (NVI): Para o homem não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer em seu trabalho. E vi que isso também vem da mão de Deus. E quem aproveitou melhor as comidas e os prazeres do que eu? Ao homem que o agrada, Deus recompensa com sabedoria, conhecimento e felicidade. Quanto ao pecador, Deus o encarrega de ajuntar e armazenar riquezas para entregá-las a quem o agrada. Isso também é inútil, é correr atrás do vento.

E Eclesiastes estabelece uma perspectiva sábia sobre o viver, ao argumentar que, se é preciso o cristão evitar uma vida frívola, superficial e indisciplinada, não tem sentido ir ao outro extremo para uma vida ascética, miserável e cheia de privações, pois Deus quer que nos regozijemos com o que criou para nós, sem que, no entanto, sejamos hedonistas, tendo no prazer nosso bem supremo.

Paulo, que há quase 2.000 anos já se via às voltas com o problema da carnalidade exacerbada praticada por parte de seus seguidores ao dar ouvido a falsos mestres, na carta aos Romanos 8.5-8 (ARA) coloca a necessidade que o cristão tem de uma vida de santificação, não deixando restar qualquer dúvida de que “… os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.

E em Romanos 14.17 (ARA), reitera: Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo, alertando duramente no verso 20: Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo.

O cristão, para ser autêntico, não tem alternativa: ou tem Cristo como modelo e procura copiá-Lo em tudo, ou não pode se autodenominar cristão. Por essa razão é importante rememorarmos o que o apóstolo registrou em Efésios 5.1-2, na versão NTLH: “Vocês são filhos queridos de Deus e por isso devem ser como ele. Que a vida de vocês seja dominada pelo amor, assim como Cristo nos amou e deu a sua vida por nós, como uma oferta de perfume agradável e como um sacrifício que agrada a Deus!

Da mesma forma que os filhos imitam os pais, nós também devemos ter a Cristo como exemplo em tudo, mormente em Seu grande amor que levou-O a sacrificar-se por nós para que fôssemos poupados da morte eterna. Nosso amor pelos outros deveria ser do mesmo tipo, um amor que deveria ir muito além do mero afeto, chegando a um elevado grau de abnegado autossacrifício.

Na passagem contida nos versos 3-5, ele continua: Vocês fazem parte do povo de Deus; portanto, qualquer tipo de imoralidade sexual, indecência ou cobiça não pode ser nem mesmo assunto de conversa entre vocês. Não usem palavras indecentes, nem digam coisas tolas ou sujas, pois isso não convém a vocês. Pelo contrário, digam palavras de gratidão a Deus. Fiquem certos disto: jamais receberá uma parte no Reino de Cristo e de Deus qualquer pessoa que seja imoral, indecente ou cobiçosa (pois a cobiça é um tipo de idolatria).

Nos dias que correm, as obscenidades e vulgaridades tornaram-se tão comuns que tendemos a aceitá-las como expressões naturais de nosso tempo, o que de fato são, porém inaceitáveis para um cristão porque não refletem a presença de Deus em nós, ao contrário, impedem que Ele seja visto através de nossas atitudes. Como poderia a mesma boca que louva a Deus, ser conduto de palavras chulas e levianas, lembrando que, como Jesus ensinou, “… a boca fala do que está cheio o coração”? Será que essa conduta reprovada por Paulo não é a mesma daqueles que querem “aproveitar a vida”, já naqueles tempos, e que se repete no presente?

E o apóstolo continua admoestando seu rebanho no trecho que vai dos versos 6 a 14: Não deixem que ninguém engane vocês com conversas tolas, pois é por causa dessas coisas que o castigo de Deus cairá sobre os que não obedecem a ele. Portanto, não tenham nada a ver com esse tipo de gente. Antigamente vocês mesmos viviam na escuridão; mas, agora que pertencem ao Senhor, vocês estão na luz. Por isso vivam como pessoas que pertencem à luz, pois a luz produz uma grande colheita de todo tipo de bondade, honestidade e verdade. Procurem descobrir quais são as coisas que agradam o Senhor. Não participem das coisas sem valor que os outros fazem, coisas que pertencem à escuridão. Pelo contrário, tragam todas essas coisas para a luz. Pois é vergonhoso até falar sobre o que essas pessoas fazem em segredo. E, quando qualquer coisa é trazida para a luz, então a sua verdadeira natureza é revelada. Porque o que é claramente revelado se torna luz. E é por isso que se diz: ‘Você que está dormindo, acorde! Levante-se da morte, e Cristo o iluminará’”.

Como filhos da luz, portanto luzeiros nesse mundo em trevas (Filipenses 2.15 – ARA), nossas ações devem refletir nossa fé, espargindo aos outros a bondade de Deus, mas é importante evitar todo prazer, atividade ou postura que provenha do pecado, e Paulo nos instrui a denunciar e condenar tais práticas, sob pena de nossa omissão ser interpretada como aprovação das iniquidades cometidas.

O apóstolo então conclui nos versos 15 a 17, exortando: “Portanto, prestem atenção na sua maneira de viver. Não vivam como os ignorantes, mas como os sábios. Os dias em que vivemos são maus; por isso aproveitem bem todas as oportunidades que vocês têm. Não ajam como pessoas sem juízo, mas procurem entender o que o Senhor quer que vocês façam”.

É preciso assinalar que Paulo não proibiu o contato com os inconversos, pois Jesus mesmo orientou Seus seguidores a serem amigos dos pecadores para levá-los a Ele, o que, no entanto, não significa que devamos aceitar e muito menos adotar seu estilo de vida. Por isso precisamos ter cautela em nossos relacionamentos com os incréus, os imorais, ou com aqueles que se opõem a tudo o que o Cristianismo postula, porque com relação a alguns tipos de pessoas refratárias a Cristo, há maior risco de sermos influenciados pelo mal, que influenciarmos pelo bem que desejamos exerça ação sobre eles.

A propósito, se os dias de Paulo eram considerados maus, como classificaríamos os tempos atuais? É por isso que devemos proclamar a Palavra da Salvação, quer seja oportuno, quer não, a tantos quantos possamos alcançar, com um sentido de urgência, porque Jesus ensina em Mateus 24.42 (ARA), “… vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor.

Como cristãos devemos, sim, aproveitar a vida, tornando cada minuto que Deus nos concede um momento único de serviço a Ele, de estudo da Sua Palavra gloriosa, cada dia como se fosse o último de nossa existência, orando sem cessar, vivendo plenamente nossa nova vida em Cristo que agora desfrutamos enquanto ainda estamos no mundo, aprendendo sempre mais dEle, testemunhando o que Jesus fez , faz e ainda fará por nós onde quer que estejamos, e aplicando Seus ensinamentos no nosso cotidiano em favor dos nossos semelhantes.

Deus criou a vida humana para ser desfrutada com a utilização das dádivas, bênçãos e maravilhas por Ele concebidas para nos deleitar. Mas o Senhor não deseja que invistamos todo o nosso tempo, esforço e dedicação somente na matéria, pois a frustração será inevitável. Em Sua sabedoria inexcedível, Deus espera que nosso foco permanente esteja na verdadeira existência, que é a vida no Espírito, a vida em Cristo, que nunca nos deixará decepcionados ou com qualquer sensação de vazio que a vida terreal tantas vezes provoca.

Senhor Deus e Pai, nós Te louvamos e engrandecemos porque Teu amor infinito, incompreensível e gracioso se revela em tudo o que criaste, em todas as Tuas ordenanças, mandamentos e leis, que visam unicamente o nosso bem e a comunhão harmônica conTigo, com os nossos semelhantes e com a paradisíaca criação com que nos obsequiaste. Capacita-nos, ó Pai, nesse dia e em todos os demais que nos concederás, a viver sabiamente essa vida terreal tão breve, preparando-nos com sabedoria para a Vida Eterna ao teu lado. Em nome de Cristo Jesus, nosso Poderoso Salvador, Luz do Mundo e Autor da Vida, oramos com os corações inundados de gratidão. Amém.

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