O CRISTÃO E O MEIO AMBIENTE (2) Tag

O CRISTÃO E O MEIO AMBIENTE (2)

A criação de Deus é verdadeiramente extraordinária, maravilhosa, surpreendente! A todo o momento descobrem-se novos usos para a infinidade de plantas, micro-organismos, minerais e até animais que Ele concebeu. Por exemplo, certo tipo de alga conhecida como clorela, que cresce em águas poluídas, tem sido amplamente utilizada em vários países no tratamento de esgotos, principalmente domésticos, e de quebra possui ricas qualidades alimentícias. Uma colher de sopa dessa alga, seca, tem valor nutritivo igual a um bife de trinta gramas, com todas as vitaminas essenciais, com exceção da vitamina C. Quando cultivada em despejos líquidos a uma temperatura de 40o C, dobra o seu peso seco a cada duas horas e meia, e uma única planta de clorela multiplica-se em 10.000 novas plantas a cada 24 horas! O esgoto de uma cidade com 100.000 habitantes produziu 10 toneladas de alga seca a cada 24 horas, além de gerar mais de 37.000 litros de água para irrigação! Este é apenas um dos muitos exemplos de que Deus, o Supremo Criador, o Inigualável Planejador, que a tudo fez existir a partir do nada, permite que o inútil se torne útil, em toda a Sua criação, incluindo o ser humano.

 

A Bíblia nos conta que por volta do ano 62 d.C. o escravo Onésimo havia fugido de seu senhor, que morava em Colossos, na Ásia Menor, e foi para Roma, onde se encontrou com Paulo, que estava na prisão. Através do testemunho de Paulo, Onésimo converteu-se ao cristianismo e agora Paulo devolve o fugitivo na companhia de Tíquico, que leva uma carta a Filemom, o amo do escravo. Nesta epístola, no verso 11, referindo-se ao escravo fugido, o apóstolo escreveu: “Ele, antes, te foi inútil; atualmente, porém, é útil, a ti e a mim.” Quantos elementos da natureza foram por muito tempo considerados inúteis e, posteriormente, descobriu-se utilidades maravilhosas para eles! O mesmo acontece conosco: muitos de nós foram absolutamente inúteis na obra do Senhor, e um dia Deus, por Sua graça e misericórdia, nos transformou em servos úteis.

 

Mas, como humanidade, temos pecado vergonhosamente, deixando de cuidar da terra com o amor sacrificial, desprendido e altruísta que Deus espera de nós, explorando-a de forma predatória, inconsequente e abusiva para o nosso próprio, imediato e exclusivo benefício. Sem o mínimo respeito ao que a Palavra condena em Mateus 6.24 e em Colossenses 3.5, como uma espécie de “idolatria da avareza”, quando agimos de forma ímpia, inconsequente e desrespeitosa para com nossos semelhantes e para com toda a criação, assim desonrando ao Criador.

 

Todos sabemos que o crescente desmatamento das florestas, a urbanização desenfreada, o aumento da industrialização, a ampliação indiscriminada das áreas agricultáveis com o avanço das fronteiras agrícolas, aliados ao prodigioso aumento do consumo de combustíveis fósseis, tem produzido sérios desequilíbrios ambientais, já sentidos em todos os quadrantes do planeta, especialmente pelas populações mais desprotegidas e carentes: secas, inundações, tornados, furacões, tsunamis, nevascas, temperaturas extremas no inverno e no verão. Tudo isto tem consequências graves, ao atingir principalmente as populações que vivem nas regiões costeiras, gerando a perda maciça de vidas humanas e de animais, epidemias, fome, contaminação das fontes de água potável e conflitos por conta da falta de água e de alimentos.

 

O Senhor nosso Deus deve Se indignar e Se entristecer profundamente ao ver o estado agônico em que reduzimos a Sua perfeita criação!

 

Somente agindo de acordo com uma cosmovisão cristã reformada – isto é, tendo uma visão total do mundo e da vida a partir dos princípios revelados por Deus nas Escrituras – poderemos encontrar os caminhos que nos levem à transformação do trágico quadro atual. Temos de enxergar o mundo com os olhos de Deus e interagir com Ele a partir daquilo que nos foi revelado pela Sua palavra, certos de que só Deus pode mudar a realidade que nos cerca, “… porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”, como Paulo ensina em Filipenses 2.13.

 

Temos sido condescendentes, coniventes, complacentes com o consumismo, com as relações econômicas e sociais injustas nos âmbitos local, nacional e global, com nossa egocêntrica teologia da criação e temos permanecido omissos para com as ações políticas que contribuem decisivamente para a destruição de florestas, de rios e de comunidades indígenas.

 

Como família da fé precisamos urgentemente buscar formas adequadas de restauração e de construção de relações mais justas entre os seres humanos e destes com a criação, que é o propósito redentor de Deus. Urge que unamos nossas vozes para exigir das lideranças locais, nacionais e globais que sejam cumpridos os acordos e as convenções intergovernamentais, e que trabalhem para que novas tecnologias e fontes de energia limpa e sustentável sejam acessíveis a todos, em especial aos mais desvalidos. É preciso exigir também que sejam respeitadas e cumpridas as legislações urbanas e rurais que disciplinam o uso e a ocupação do território, impedindo que áreas de preservação, florestas, morros, fundos de vale, áreas indígenas demarcadas e áreas litorâneas transformem-se em moeda de troca para políticos corruptos.

 

Mas também devemos viver de forma responsável e não consumista, lembrando-nos de que somos mordomos da criação e partícipes da missão integral que Cristo nos confiou, não só proclamando, mas também demonstrando as boas novas do Evangelho, cumprindo o mandato por Ele expresso em Miquéias 6.8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.”

 

Pai nosso, Criador divino, Tu criaste com absoluta perfeição a terra, os mares, a vegetação variegada, os seres que povoam as águas, as aves que voam pelos céus, os animais domésticos, os répteis, o homem e uma infinidade de criaturas que ainda estamos aprendendo a conhecer. Hoje toda a Tua criação se encontra degradada, gemendo em agonia, e pedimos que Tu nos perdoes por que somos os responsáveis por este estado lastimável, arrependidos, pois não soubemos dela cuidar como tu desejavas. Sabemos que temos sido servos infiéis, mas queremos reparar nossos equívocos, por isso mostra-nos o caminho que devemos seguir para cooperar conTigo na mitigação dos males por nós próprios causados. No nome de Cristo, o Verbo que estava conTigo no princípio, é que oramos humildes e suplicantes. Amém.

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