PAZ

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PAZ

A tão conhecida Oração da Paz, atribuída popularmente a São Francisco de Assis, na verdade é uma oração de origem anônima escrita no início do século XX em Paris e que em 116 foi impressa em Roma numa folha de papel que de um lado continha a oração e do outro uma estampa do santo. Associada a isso, o texto que bem reflete os princípios defendidos por Francisco de Assis, propiciou que fosse divulgada como sendo de sua própria autoria. Relembremos o que roga a Deus:

 

Senhor, faze de mim um instrumento da Tua paz.
Onde houver ódio, faze com que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,

Onde houver dúvida, que eu leve a fé,

Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Mestre, faze com que eu procure mais consolar que ser consolado,
Compreender, que ser compreendido,
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna. Amém.

 

Paz é uma condição que todos gostariam de vivenciar, mas que poucos realmente conseguem, porque esperam que ela aconteça sem que seja preciso fazer algum esforço, e esse é um grande erro: para se ter paz é preciso buscá-la, é necessário trabalhar, dar o máximo de si por ela.

 

Jesus Cristo afirmou em Mateus 5.9 que Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”, ou, como diz a versão bíblica NTLH: “Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos.”

 

No judaísmo considerava-se que a atitude mais elevada que alguém poderia ter era a de promover relações justas, pacíficas, entre seus semelhantes, e alguns estudiosos da Bíblia afirmam que é muito possível que Jesus tivesse essa virtude em mente quando proferiu este ensinamento.

 

Paz não é simplesmente a ausência de conflitos, de desavenças, de desentendimentos. No original do Novo Testamento, escrito em hebraico, é muito mais que isso: é tudo o que contribui para o bem-estar das pessoas. Por exemplo, no Oriente Médio, quando duas pessoas se encontram, saúdam uma à outra dizendo shalom, o que não significa que uma esteja desejando à outra apenas o livramento de todo o mal, mas sim fazendo votos de que a vida do outro transborde de coisas felizes, boas e agradáveis.

 

Além de tudo, o que Jesus aconselha nesta bem-aventurança, não é somente que amemos a paz ou gostemos de paz, que é algo com o que a maioria das pessoas por certo dirá que concorda, mas sim que façamos a paz, isto é, que sejamos instrumentos ativos de paz, tendo uma atitude decidida de buscá-la, de lutar por ela ao nos defrontarmos com uma situação de falta de entendimento entre as pessoas, especialmente quando se trata de irmãos em Cristo.

 

Graças a Deus existem no mundo pessoas que dedicam-se a conciliar as outras tendo uma atitude harmonizadora, e procuram fazer com que as divergências sejam resolvidas pacificamente, mesmo que suas ações tenham como consequência até a perda da própria vida, e Gandhi, Martin Luther King Jr, Nelson Mandela e Madre Tereza de Calcutá são alguns exemplos marcantes.

 

Elas fazem a vontade de Deus, cooperando para o propósito divino que é o de estabelecer a paz entre o homem e Deus e entre os homens entre si, enquanto os que agem belicosamente, agressivamente, com falta de espírito perdoador, sem se dar conta estão abrindo brechas que o inimigo de Deus e nosso aproveita para atacar gerando conflitos, desavenças, ódio e rancor.

 

Por isso podemos ter a certeza de que aquele que trabalha para que haja relações justas, sadias, bondosas entre as pessoas, está fazendo a obra de Deus, que se agrada de sua atitude, como Paulo em Romanos 12.18 (ARA) exorta: “… se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens…”.

 

E o apóstolo complementa em Romanos 14.17-19 (NVI): Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua.

 

No entanto, o que Jesus prega com a bem-aventurança ensinada em Mateus 5.9 não é que aceitemos passivamente uma situação que afronta a verdade da Palavra de Deus, mas sim que enfrentemos o mal por meio de uma firme luta pelo bem, pela fraternidade, pela concórdia, e assim prevaleça a vontade do Senhor.

 

Por isso, os homens que promovem a paz são chamados de filhos de Deus, porque estão fazendo aquilo que Deus faz desde a eternidade e deseja que nós façamos também, pois nosso Deus é o Deus da paz, Seu Filho é o Príncipe da Paz, e o Espírito Santo é o Consolador que traz a paz, um dos bens mais preciosos que – por Sua graça e misericórdia infinita – Ele nos concede.

 

É preciso que tenhamos sempre em mente que uma das tarefas mais importantes na vida que Deus nos deu é cooperarmos com Ele para a obra de pacificação deste mundo cheio de trevas e conflitos, buscando de todas as formas transformá-lo em um lugar onde todos possam ser felizes e viver em harmonia.

 

Mas fazer a paz, por vezes, é um empreendimento ingrato, uma atividade de risco, quando aquele que tenta mediar uma situação, buscando reconciliar dois lados que se opõem um ao outro, pode enfrentar reações raivosas de um ou de ambos; mas isso deve ser encarado como o ônus de servir a Deus sobre o qual Jesus mesmo nos alertou, dizendo em João 14.27: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”

 

Porém o autêntico pacificador que Jesus deseja que todos sejamos precisa, antes de mais nada, estar em paz com Deus, reconciliado com o Pai e por Ele justificado, podendo então usufruir da verdadeira, absoluta e incomparável paz, como Paulo pontua em Romanos 5.1 (NVI), dizendo que “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”.

 

Quando a paz de Cristo domina nossos corações, a graça em nós transborda e produz misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, perdão e amor que envolve a todos os que nos cercam, concretizando o que o mesmo apóstolo propõe sabiamente em Colossenses 3.12-15 (NVI): “… revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. (…). Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações…”.

 

A maneira como Deus usa os pacificadores para Seus propósitos é extraordinária! O famoso romancista russo Leon Tolstoi, tentou ser um pacificador, mas não conseguiu por causa de seu temperamento colérico. Porém ele escreveu um livro sobre o Sermão do Monte que 50 anos mais tarde influenciou decisivamente a Gandhi, levando-o a viver e lutar pelos princípios proclamados por Jesus e, por sua vez, foi influência decisiva para que um pastor norte-americano chamado Martin Luther King Jr., empregando as estratégias de não violência de Gandhi, aplicou-as nos Estados Unidos e desta forma produziu uma revolução na questão dos direitos humanos naquele país.

 

E apesar de todos os ataques verbais, morais e físicos que ele e seus correligionários sofreram por anos, jamais deixou de ser fiel aos princípios da paz, nunca revidando, falando sempre de amor, quando à sua volta muitos clamavam por vingança.

 

Martin Luther, tal como Gandhi, foi covardemente assassinado, mas as atitudes pacificadoras de ambos influenciaram o mundo todo: nas Filipinas, o povo ajoelhado em oração nas ruas parou tanques e soldados armados e derrubou o governo central corrupto e ditatorial.

 

No ano de 1989, na União Soviética, Hungria, Polônia, Iugoslávia, Bulgária, Romênia, Tchecoslováquia, Albânia, Mongólia, Alemanha Oriental, Nepal e Chile, países oprimidos por regimes totalitários injustos e impopulares, as populações derrubaram seus opressores por meio de ações não violentas simplesmente desfilando pelas ruas pacificamente orando e cantando hinos de louvor a Deus.

 

E se os países do mundo, ao invés de terem ministérios da guerra que dispendem bilhões de dólares em armamentos para matar inimigos internos e externos, os substituíssem por ministérios da paz, agindo para levar concórdia, educação, saúde e segurança ao seu próprio povo e aos seus vizinhos?

 

É claro que isso é utópico no mundo em que vivemos e talvez possa vir a ser realidade somente com a segunda vinda de Cristo, mas cada um de nós pode, desde já, ser um ministro da paz onde quer que estejamos, fazendo a nossa parte ao cooperar na Obra Maravilhosa de Jesus, que veio trazer-nos a Sua paz que excede todo o entendimento.

 

Por exemplo, se agíssemos exclusivamente de forma pacífica e pacificadora na família, no trânsito, no futebol, nas escolas, na igreja, no bairro, na política, no trabalho, enfim, em todos os lugares e atividades humanas, nossa vida não seria muito melhor, mais feliz, segura e produtiva, enfim, mais frutífera, como Deus requer?

 

Tu, SENHOR, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti, disse o profeta em Isaías 26.3, e esta promessa sublime se refere à paz perfeita, paz interior, paz exterior, paz de consciência, paz em todas as ocasiões, em todos os acontecimentos e circunstâncias, que terá aquele cujo coração e mente estiverem, sem tremor ou vacilo, firmados no Senhor.

 

No entanto, sendo realistas, em nossa peregrinação terreal não é possível em sã consciência pretender evitar todos os conflitos, porque “… o mundo inteiro jaz no Maligno”, como 1 João 5.19 afirma, e o diabo é a fonte de todo mal, desavença e conflito. Mas, com Deus ao nosso lado, teremos paz até quando o caos, a confusão e a discórdia nos envolverem, porque o nosso foco é vertical, em Cristo, e não horizontal, no mundo.

 

Se entregarmos nossa vida a Deus e formos obedientes à Sua Palavra, nossas atitudes serão sempre firmes, estáveis e construtivas, pois então estaremos amparados pelo Seu amor inalterável e por Seu poder infinito, e isto nos garantirá a paz em qualquer circunstância. Então estaremos por fim gozando da maravilhosa promessa de que Paulo fala em Filipenses 4.7 (NVI): “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus”.

 

Que o Senhor nos permita servi-Lo como arautos da Sua paz, que nos capacite a sermos fiéis à Sua Palavra em qualquer instância e situação de conflito, transformando-nos assim em Seus instrumentos de paz no mundo, preparando-nos para o glorioso dia antevisto por Isaías 65.25 em que “O lobo e o cordeiro vão pastar juntos, o leão vai comer palha com o boi, e as cobras venenosas não atacarão os homens. Naquele dia não vai haver qualquer violência ou maldade em todo o meu Santo Monte, diz o Senhor”. No precioso e supremo nome de Jesus assim rogamos. Amém.

 

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