Louco Amor

Louco Amor

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” 1 Coríntios 2.14.

Nesta seção você vai poder conhecer as histórias da vida de missionários cristãos de ontem e de hoje, e de verdadeiros heróis da fé que mudaram o mundo. Você vai poder compartilhar expressões genuinamente cristãs, destacadas de diários, biografias, testemunhos, e até pensamentos marcantes de pessoas dominadas por esta paixão por Deus, contemplando desde “santos”, assim considerados pela Igreja, pastores, missionários, lideranças da Igreja, personalidades da cultura, e até pessoas comuns.

Um Louco Amor por Cristo que o mundo não consegue entender, é o que move estas pessoas especiais que deixam tudo para trás para atender ao Ide do Salvador.

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Rude Cruz – Um Hino ao Louco Amor!

Rude cruz se erigiu, dela o dia fugiu / Como emblema de vergonha e dor / Mas eu sei que na cruz / Neste dia Jesus / Deu a vida por mim, pecador / Sim, eu amo a mensagem da cruz / Seu triunfo meu gozo será! / Pois um dia em lugar de uma cruz / A coroa Jesus me dará!

Considerado por muitos cristãos um dos mais populares hinos do século XX, sua letra e melodia foram compostas pelo pastor metodista americano, George Bennard que também foi autor de outros 300 hinos. Bennard nasceu em 4 de fevereiro de 1873, em Ohio, EUA, numa cidade que girava em torno de uma mina de carvão e produção de ferro. Quando ele aceitou Jesus como seu Salvador, ingressou no Exército da Salvação. Desde cedo Bennard aspirava tornar-se um evangelista, mas teve que adiar seu sonho por um tempo, devido à morte de seu, pai pouco antes de ele completar 17 anos. Com essa idade, teve que ser “o homem da casa”, ajudando a sustentar sua mãe e irmãs. SóREAD MORE

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William Tyndale – Uma História que Todo Cristão Deve Conhecer

Depois que Alexandre, o Grande, devastou o Oriente Próximo, constituindo seu gigantesco Império, o grego tornou-se a língua dominante. No século III a.C. uma tradução grega das Escrituras Judaicas foi empreendida, e ficou conhecida como Septuaginta. Todos os livros das Escrituras Judaicas foram incluídos na Septuaginta, além de vários livros que seriam mais tarde excluídos do cânon protestante – a coleção autorizada de escritos sagrados – que foram denominados de livros apócrifos.

No século IV o latim havia substituído o grego como língua oficial do Império Romano, e surgiu então a necessidade de se ter uma Bíblia em latim. Um monge italiano de nome Jerônimo aceitou o desafio e produziu a tradução que se tornou conhecida com Vulgata, porque foi escrita em latim vulgar. Jerônimo traduziu a maior parte do Antigo Testamento a partir dos antigos textos hebraicos, em vez de trabalhar a partir da versão grega da Septuaginta, que tinha sido usada pelos cristãos desde o princípio. A Vulgata foi publicada cerca de 400 d.C., poucos anos depois de Teodósio I ter feito do cristianismo a religião oficial do Império Romano, no ano 391, e tornou-se  a versão dominante no cristianismo da Idade Média.

Durante a Idade Média a tradução, sobretudo do Antigo Testamento, foi desencorajada. O papa Inocêncio III, em 1199, proibiu versões da Bíblia sem autorização, como uma reação contra as heresias do Catarismo e dos Valdenses, e os sínodos de Toulouse e de Tarragona (1234) proibiram a posse de tais escritos.

William Tyndale, nascido em 1484 e morto em 1536, foi um acadêmico e sacerdote inglês formado mestre em Artes na Universidade de Oxford, que traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês. Contemporâneo e amigo de Lutero, muitos o colocam como pré-reformador, mas é inegável que ele teve uma grande participação de maneira direta na Reforma Protestante.

Tyndale nasceu em um local próximo à fronteira do país de Gales. Foi criado desde sua infância na Universidade de Oxford, onde, por sua longa permanência, cresceu tanto no conhecimento dos idiomas e das outras artes liberais, como na prática das Escrituras, às quais a sua mente estava muito apegada.

Estudando as Escrituras, começou a defender as teses da Reforma Protestante, muitas das quais eram consideradas heréticas, primeiro pela Igreja Católica e depois pela própria Igreja Anglicana. Aos 30 anos fez uma promessa que haveria de traduzir a Bíblia diretamente dos originais para o inglês, com o objetivo de que todo o povo – desde o camponês até os nobres da corte real – pudessem ler e compreender as Escrituras em sua própria língua. Mas em 1523 Tyndale teve negado seu pedido de permissão para traduzir a Bíblia para o inglês, porque seu bispo católico associou tal atividade com o protestantismo emergente. Obstinado, Tyndale partiu para a Alemanha, onde traduziu todo o Novo Testamento e partes do Antigo, para o inglês.

Certa ocasião Tyndale estava por acaso conversando com um amigo a respeito de várias questões da Escritura, quando este disse-lhe: “Você sabia que o Papa é o próprio Anticristo de quem falam as Escrituras? Mas cuidado com o que você diz. Pois, se perceberem que você tem formada esta opinião, o fato vai lhe custar a vida”. Tempos depois, conversando e discutindo com outro teólogo, Tyndale mencionou esta questão, e seu interlocutor explodiu dizendo: “melhor seria para nós não ter as leis de Deus do que não ter as leis do Papa”. Ouvindo aquilo, Tyndale cheio de santo zelo, replicou: “Eu desafio o Papa e todas as suas leis. E acrescentou que se Deus lhe desse vida, dentro de uns poucos anos ele faria até um menino que ara a terra ter mais conhecimento sobre as Escrituras do que ele”.

O ressentimento dos padres contra Tyndale foi crescendo cada vez mais. Fugindo da Inglaterra, Tyndale partiu para a Alemanha onde se encontrou com Lutero. Inflamado de carinho e zelo pelo seu país, não recusou nenhum trabalho ou esforço para, de todas as maneiras possíveis, conduzir seus irmãos e compatriotas da Inglaterra ao mesmo gosto e entendimento da Palavra de Deus e da verdade com que o Senhor o revestira, e que não havia melhor caminho para isso do que franquear a todo o povo a leitura da Bíblia. Ele percebeu que não era possível conduzir os leitores a qualquer verdade, a menos que as Escrituras fossem colocadas diante de seus olhos de forma clara em sua língua materna, para que pudessem compreender o significado do texto. Considerava que todo o mal no seio da Igreja provinha em grande medida do fato de as Escrituras não serem expostas aos olhos do povo, por isso traduzir a Escritura para sua língua materna, em benefício do povo simples do seu país, passou a ser sua prioridade. Começou pelo Novo Testamento, cuja tradução já estava completa em 1525, sendo impresso e publicado por volta de 1529. A tradução do Novo Testamento de Tyndale – revista em 1534, 1535 e 1536 – e sua tradução do Pentateuco e do livro de Jonas, foram recebidas com pesadas sanções devidas à acusação feita pela Igreja institucional de que Tyndale tinha “mudado” a Bíblia enquanto a traduzia. O Bispo de Londres e o Chanceler inglês Thomas More, sentindo-se profundamente ofendidos, buscavam formas de destruir aquela tradução, que eles chamavam de falsa e errônea, ao que ele respondeu escrevendo: “Peço a Deus que registre, para o dia em que deveremos comparecer perante o Senhor Jesus, que nunca alterei uma sílaba da Palavra de Deus contra a minha consciência. Tampouco o faria hoje, nem para ter em troca tudo o que existe na Terra, seja honra, prazer ou riqueza”.

Não obstante toda a oposição e as calúnias proferidas, em pouco tempo mais de seis mil cópias estavam nas mãos do povo, o que gerou uma grande perseguição da igreja romana contra Tyndale em toda a Europa. No fim ele foi covardemente traído por uma pessoa que, tendo conquistado sua amizade, entregou-o às autoridades, e em maio de 1535 foi preso e levado para Bruxelas. Um ano depois saiu a sua condenação como herege pelo tom protestante de suas notas bíblicas. Seus amigos se mobilizaram, fizeram um apelo às autoridades e ofereceram-lhe um advogado e um procurador, mas ele recusou o oferecimento, afirmando que faria sua própria defesa. De tal modo pregava ele aos guardas encarregados de sua custódia e àqueles que vinham conversar com ele no castelo onde estava preso, que dele diziam que se esse não era um bom cristão, eles não sabiam quem poderia ser considerado como tal. No fim ele foi condenado em virtude de um decreto do imperador, e as traduções de Tyndale foram banidas pelas autoridades.

No dia seis de outubro de 1536, sob a instigação de agentes de Henrique VIII e da Igreja Anglicana, foi levado ao lugar da execução em Vilvoorden, localizada 10 quilômetros a nordeste de Bruxelas. Trazido para o local da execução, foi amarrado à estaca, estrangulado pelo carrasco e em seguida consumido pelo fogo; na estaca, orou com fervoroso zelo, em alto e bom som, e suas últimas palavras foram, “Senhor, abra os olhos do rei da Inglaterra“.

Fontes: redes sociais e o “Livro dos Mártires”.

 

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John Wycliffe – Precursor da Reforma Protestante

John Wycliffe – nascido nos anos 1320 e falecido em 31 de dezembro 1384 – foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor da reforma religiosa que sacudiu a Europa nos séculos XV e XVI, conhecida como Reforma Protestante. Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que foi chamada de Bíblia de Wycliffe.

Sua família era tradicional na região de Yorkshire, e à época do seu nascimento as propriedades familiares cobriam amplo território nas redondezas de Ipreswell (hoje Hipswell). Não há certeza sobre o ano de seu nascimento, um dos anos mais citados é 1320, mas há variações de 1320 a 1328. Também não se sabe o ano em que foi enviado pela família para estudar na Universidade de Oxford, mas há certeza de que estava lá desde pelo menos 1345.

Na Universidade, aplicou-se nos estudos de teologia, filosofia e legislação canônica. Tornou-se sacerdote e depois serviu como professor no Balliol College, ainda em Oxford. Por volta de 1365 tornou-se bacharel em teologia e, em 1372, doutor em teologia.

Como teólogo destacou-se pela firme defesa dos interesses nacionais contra as exigências do papado, ganhando reputação de patriota e reformista. Wycliffe afirmava que havia um grande contraste entre o que a Igreja era e o que deveria ser, por isso defendia reformas, apontando a incompatibilidade entre várias normas do clero e os ensinos de Jesus e de seus apóstolos.

Uma destas incompatibilidades era a questão das propriedades e da riqueza do clero. Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder temporal do papa e dos cardeais. Para ele o Estado deveria tomar posse de todas as propriedades da Igreja e encarregar-se diretamente do sustento do clero. Logo, a cátedra deixou de ser o único meio de propagação de suas ideias, quando iniciou a redação de seu trabalho mais importante, a Summa theologiae. Entre as ideias mais revolucionárias desta obra, está a afirmação de que, nos assuntos de ordem material, o rei estava acima do papa e que a Igreja deveria renunciar a qualquer tipo de poder temporal. Sua obra seguinte, De civili dominio, continha 18 teses que vieram a público em Oxford em 1376, e aprofundava as críticas ao papado de Avignon (onde esteve a sede provisória da Igreja de 1309 até 1377), com seu sistema de venda de indulgências e a vida perdulária e luxuosa de muitos padres, bispos e religiosos sustentados com o dinheiro do povo. Wycliffe defendia que era tarefa do Estado lutar contra o que considerava abusos do papado, e pregava nas igrejas em Londres onde sua mensagem era bem recebida. Rapidamente suas teses espalharam-se pela Inglaterra, em parte pelos interesses da nobreza em confiscar os bens então em poder da igreja.

Apesar de sua crescente popularidade, a Igreja começou em censurar Wycliffe, e em 19 de fevereiro de 1377, ele é intimado a apresentar-se diante do bispo de Londres para justificar-se. Compareceu acompanhado de vários amigos influentes e quatro monges foram seus advogados. Uma multidão aglomerou-se na igreja para apoiar Wycliffe, houve discussão com o bispo, o que irritou ainda mais o clero, e os ataques contra Wycliffe se intensificaram, com acusações de blasfêmia, orgulho e heresia. Enquanto isso, os partidos no Parlamento inglês pareciam convictos de que os monges poderiam ser melhor controlados se fossem aliviados de suas obrigações seculares.

É importante lembrar que, neste período, desenrolava-se a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra, por isso na Inglaterra daquele tempo, tudo que era identificado como francês era visto como inimigo e nessa visão se incluiu a Igreja, pois havia transferido sua sede de Roma para Avignon, na França. A elite inglesa (realeza, parlamento e nobreza) reagia à ideia de enviar dinheiro aos papas, atitude que era considerada como ajuda ao sustento do próprio inimigo. Neste ambiente hostil à França e à Igreja, um teólogo como Wycliffe desfrutou quase imediatamente de grande apoio, não apenas político, como também popular, despertando o nacionalismo inglês.

Em 22 de maio de 1377, o Papa Gregório XI, que em janeiro havia abandonado Avignon para retornar à sede da Igreja a Roma, expediu uma bula contra Wycliffe, declarando que suas 18 teses eram errôneas e perigosas para a Igreja e o Estado. O apoio de que Wycliffe desfrutava na corte e no parlamento tornaram a bula sem efeito prático, pois era geral a opinião de que a Igreja estava exaurindo os cofres ingleses.

Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei. Seu livro De officio regis defendia que o poder real também era originário de Deus, e encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributo. O rei devia aplicar seu poder com sabedoria e suas leis deviam estar de acordo com as de Deus – das quais derivava a autoridade das leis reais – inclusive daquelas em que o rei atuava contra o clero, porque se o clero negligenciava seu ofício, o rei devia chamá-lo à responsabilidade. Ou seja, o rei devia possuir um “controle evangélico” e quem serve à Igreja devia submeter-se às leis do Estado, assim os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei e não do papa.

Este livro teve grande influência na reforma da Igreja, não apenas na Inglaterra – que sob Henrique VIII passaria a ter a igreja subordinada ao Estado e o rei como chefe da Igreja – mas também na Boêmia e na Alemanha. Especialmente interessantes são também os ensinamentos que Wycliffe dirigia aos reis para que protegessem seus teólogos, sustentando que, já que as leis do rei deveriam estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia seria necessário para fortalecer o exercício do poder real, e desta forma o rei deveria cercar-se de teólogos para aconselhá-lo na tarefa de proclamar as leis reais.

Os escritos de Wycliffe em seus seis últimos anos incluem contínuos ataques ao papado e à hierarquia eclesiástica da época, e observa-se que se seus primeiros escritos eram muito mais moderados, à medida que suas relações com a Igreja foram se deteriorando, os ataques cresceram em intensidade.

Na questão relacionada ao cisma da Igreja, com papas reivindicando em Roma e em Avignon a liderança da Igreja, Wycliffe entendia que o cristão não precisava de Roma ou de Avignon, pois Deus está em toda parte. “Nosso papa é o Cristo”, sustentava. Em sua opinião, a Igreja poderia continuar existindo mesmo sem a existência de um líder visível, mas os líderes poderiam surgir naturalmente, desde que vivessem e exemplificassem os ensinamentos de Jesus.

A batalha de Wycliffe contra as ordens monásticas – que ele chamava de “seitas” – iniciou-se por volta de 1377 e alongou-se até a sua morte. Afirmava que o papado imperialista era suportado por estas “seitas”, que serviam ao domínio do papa sobre as nações daquele tempo. Em vários de seus escritos, como Trialogus, Dialogus, Opus evangelicum e em alguns sermões, Wycliffe dizia que a Igreja não necessitava de novas “seitas” e que eram suficientes os ensinos dos três primeiros séculos de existência da Igreja. Defendia que as ordens monásticas não eram suportadas pela Bíblia e deveriam ser abolidas, junto com suas propriedades. O povo então se insurgiu contra os monges e observaram-se os maiores efeitos dessa insurreição na Boêmia, anos mais tarde, com a revolução hussita. Na Inglaterra, entretanto, o resultado não foi o esperado: as propriedades acabaram nas mãos dos grandes barões feudais.

Wycliffe organizou um projeto de tradução das Escrituras, defendendo que a Bíblia deveria ser a base de toda a doutrina da Igreja e a única norma da fé cristã. Sustentava que o papa ou os cardeais não possuíam autoridade para condenar suas 18 teses, pois Cristo é a cabeça da Igreja e não os papas.

“A verdadeira autoridade emana da Biblia, que contém o suficiente para governar o mundo”, cita Wycliffe em seu livro De sufficientia legis Christi. Wycliffe afirmava que na Bíblia se encontra a verdade, a fonte fundamental do Cristianismo e que, por isso, sem o conhecimento da Bíblia não haveria paz na Igreja e na sociedade. Com isso, contrapunha a autoridade das escrituras à autoridade papal: “Enquanto temos muitos papas e centenas de cardeais, suas palavras só podem ser consideradas se estiverem de acordo com a Bíblia”. Idêntico princípio seguiria Lutero mais de 100 anos depois, ao liderar a Reforma Protestante.

Wycliffe acreditava que a Bíblia deveria ser um bem comum de todos os cristãos e precisaria estar disponível para uso cotidiano, na língua nativa das populações. A honra nacional requeria isto, desde quando os membros da nobreza passaram a possuir exemplares da Bíblia em língua francesa. Partes da Bíblia já haviam sido traduzidas para o inglês, mas não havia uma tradução completa, e Wycliffe atribuiu a si mesmo esta tarefa. Embora não se possa definir exatamente a sua parte na tradução baseada na Vulgata, não há dúvida de que foi sua a iniciativa, e que o sucesso do projeto foi devido à sua liderança. A ele devemos a tradução clara e uniforme do Novo Testamento, enquanto seu amigo Nicholas de Hereford traduziu o Antigo Testamento. Ambas as traduções foram revisadas por John Purvey em 1388, quando então a população em massa teve acesso à Bíblia em idioma inglês, ao mesmo tempo que se ouvia dos críticos: “a jóia do clero tornou-se o brinquedo dos leigos”.

Algumas ressalvas, no entanto, precisam ser feitas: durante a Idade Média os livros eram raros e caros, por serem feitos à mão, e a Bíblia não era exceção. O uso exclusivo do latim era comum a todos os livros, em função da universalidade da língua e do seu reconhecimento erudito e intelectual na Europa Ocidental, o que era válido também para a Bíblia. A tradução de Wycliffe da Bíblia para o inglês pode ter sido entendida mais como movida pelo nacionalismo inglês e menos por uma inclinação popular de democratização de acesso à Palavra de Deus. Os pobres continuaram sem ter acesso a ela por dois motivos: o primeiro é que era cara por sua confecção ainda manual, e segundo, porque o povo continuava analfabeto. A grande difusão da Bíblia só foi de fato possível com a invenção da imprensa no século XV e a universalização da educação a partir do século XIX. Então, somente após o século XIX reuniram-se as condições para a Bíblia se tornar um livro popular.

Apesar do empenho da hierarquia eclesiástica em destruir as traduções em razão do que consideravam como erros de tradução e comentários equivocados, ainda existem ao redor de 150 manuscritos, parciais ou completos, contendo a tradução em sua forma revisada. Disso podemos inferir o quão difundida essa tradução foi no século XV, razão pela qual os partidários de Wycliffe eram chamados de “homens da Bíblia” por seus críticos. Assim como a versão de Lutero teve grande influência sobre a língua alemã, também a versão de Wycliffe influenciou o idioma inglês, pela sua clareza, força e beleza.

Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos para divulgar os ensinos de Cristo. Estes padres – depois chamados de “lolardos” – não faziam votos nem recebiam consagração formal, mas dedicavam sua vida a ensinar o Evangelho ao povo. Estes pregadores itinerantes espalharam os ensinos de Wycliffe pelo interior da Inglaterra, agrupados dois a dois, de pés descalços, usando longas túnicas e carregando cajados nas mãos.

Em meados de 1381 uma insurreição social amedrontou os grandes proprietários ingleses, e o rei Ricardo II foi levado a crer que os lolardos haviam contribuído com ela. Ele ordenou à Universidade de Oxford – que havia sido reduto de líderes insurretos – que expulsasse Wycliffe e seus seguidores, apesar destes não haverem apoiado qualquer movimento rebelde. O rei proibiu a citação dos ensinos de Wycliffe em sermões e mesmo em discussões acadêmicas, sob pena de prisão para os infratores.

Wycliffe então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do ano.

A influência dos escritos de Wycliffe foi muito grande em outros movimentos reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e por seu principal discípulo, Jerônimo de Praga. Para sustar tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança (1414 – 1418). Um decreto deste Concílio, expedido em 4 de maio de 1415, declarou Wycliffe herege, recomendou que todos os seus escritos fossem queimados, e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V, tendo suas cinzas sido jogadas no rio Swift, que banha Lutterworth.

Fonte: Wikipédia

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