Exercício

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Exercício

Muitas pessoas gostam de praticar esportes, realizando exercícios físicos dos mais variados tipos, – ao ar livre, em academias, em clubes, em condomínios, em empresas, em casa – e novos métodos e espécies de atividades corporais não cessam de ser criados, estimulando o culto ao corpo tão em voga em nossa era. Mas quantos de nós exercitam-se espiritualmente – estudando a Bíblia, lendo livros cristãos, orando sem cessar, como Paulo exorta, reunindo-se com irmãos para compartilhar a Palavra de Deus, testemunhando, e, principalmente, aplicando a verdade do Evangelho – com a mesma dedicação e regularidade com que realizamos nossas atividades desportivas, e ao mesmo tempo, por conta do aprendizado e da prática espiritual, expressando grande alegria, gratidão, prazer e entusiasmo?

O apóstolo Paulo, na primeira carta a Timóteo 4.7-8 (ARA), estimula seu discípulo num tempo igualmente de grande culto ao corpo físico e à prática esportiva, – que era a base da educação na Grécia antiga – no entanto ponderando: “… Exercita-te pessoalmente na piedade. Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser”.

É preciso lembrar que o condicionamento físico, embora comparativamente menos benéfico que o exercício espiritual, é importante para o nosso corpo, concebido por Deus para o desempenho das tarefas necessárias à vida aqui na terra com saúde e disposição, capacitando-nos ao serviço divino por mais tempo e em melhores condições do que o faríamos sendo sedentários e, como decorrência, possivelmente doentes. Lembremos, por exemplo, que Paulo, em suas três viagens missionárias, segundo Eckhard J. Schnabel em seu livro Paul the Missionary, percorreu quase 25.000 quilômetros em cerca de 663 dias. Será que alguém que não estivesse em excelente forma física conseguiria dar conta de uma tarefa comissionada por Deus de tal porte? Porém, devemos também lembrar que o exercício físico só poderá ser feito enquanto há vida no corpo, por isso é limitado no tempo, em sua duração e efeitos. Por causa desta limitação temporal, enquanto podemos é sábio usufruir do privilégio que Deus nos concede de, por exemplo, exercitarmo-nos prazerosamente em meio à natureza, ao mesmo tempo que em oração agradecemos alegremente a Ele por podermos estar ali, louvando-O por tudo o que Ele criou para o nosso deleite e para a preservação de nossa saúde física, emocional, mental e espiritual.

Muitas pessoas comem em excesso e mal, têm maus hábitos, não fazem qualquer tipo de exercício físico, e quando o corpo reage por meio da dor e da incapacitação, oram pedindo que Deus cure seus corpos. Não parece presunção deixar de cumprir os requisitos que o Senhor estabeleceu para uma vida saudável, e pretender ter saúde? É claro que praticar exercícios físicos não é garantia de boa saúde, pois ela depende de vários fatores sobre os quais não temos controle, mas é fora de dúvida que sermos sedentários é certeza de não termos boa saúde.

É fora de questão, portanto, que a vida cristã deve incluir com destaque os bons hábitos de saúde, entre eles o exercício físico, considerando que corpo e espírito compõem – de forma indivisível – o nosso ser criado por Deus, e a dimensão da importância deste cuidado levou Paulo a orar por seu amado amigo Gaio em 3 João 2 (NTLH), dizendo: Meu querido amigo, tenho pedido a Deus que você vá bem em tudo e que esteja com boa saúde, assim como está bem espiritualmente.

João preocupava-se tanto com o bem-estar físico de Gaio quanto com sua saúde espiritual, estabelecendo um marcante contraste com a heresia popular da época, que ensinava que deveria haver separação entre a dimensão material e a espiritual do homem, e que a primeira, por ser eminentemente má, deveria ser menosprezada. O absurdo de tal conceito é evidente, e a sua aplicação levaria a consequências nefastas: descuido com o corpo, comprometendo a saúde física, e a tolerância inaceitável para com os desejos pecaminosos da natureza humana.

Há ainda outro aspecto relevante que Paulo considera: a vida do verdadeiro cristão deve ser como uma pista de treinamento em que vivemos em permanente luta para vencermos a corrida que nos está proposta e atingirmos a meta que é Cristo, e nunca pode se assemelhar a um sofá de onde, confortavelmente omissos, assistimos a vida passar, por isso ensina em 1 Coríntios 9.24 (NTLH):  Vocês sabem que numa corrida, embora todos os corredores tomem parte, somente um ganha o prêmio. Portanto, corram de tal maneira que ganhem o prêmio”.

Ora, ninguém vence uma corrida sem muito treinamento, suor e esforço, e com a motivação em alcançar o prêmio maior! Por isso, no verso seguinte diz: “Todo atleta que está treinando aguenta exercícios duros porque quer receber uma coroa de folhas de louro, uma coroa que, aliás, não dura muito. Mas nós queremos receber uma coroa que dura para sempre”. Então, em Filipenses 3.14 (NTLH) o apóstolo fala de si próprio, como exemplo de foco e empenho a ser seguido, ao dizer que Corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória. Esse prêmio é a nova vida para a qual Deus me chamou por meio de Cristo Jesus. E em 2 Timóteo 2.5 (NTLH) conclui chamando a atenção para uma condição: “O atleta que toma parte numa corrida não recebe o prêmio se não obedecer às regras da competição”.

Que regras são essas? Paulo está tendo em mente um atleta profissional, absolutamente concentrado na competição da qual participa – o cristianismo – que era o seu objetivo maior vida, e por isso não agia como um simples amador que treina apenas em seu tempo livre, priorizando normalmente outras atividades.

Portanto, a primeira regra que o verdadeiro cristão deve seguir é a disciplina, que o leva a negar-se a si mesmo, mantendo um rigoroso plano de treinamento imune a toda e qualquer interferência que possa ser um obstáculo ao intento de consolidar uma alma pura e forte a serviço de Cristo.

A segunda regra é a defesa da fé cristã, porque um atleta não consegue vencer se não competir, muitas vezes com outros que precisam ser esclarecidos, convencidos e persuadidos, e para isso terá que discutir e debater, defendendo sua posição e atacando a de outros, sempre obedecendo às regras cristãs de cortesia, honestidade, justiça e, principalmente, sendo conduzido pelo supremo princípio do amor.

Em Corinto, na época de Paulo, realizavam-se os famosos Jogos Ístmicos, que só eram superados em importância pelos Jogos Olímpicos, os atletas que competiam sujeitavam-se a rígidos treinamento e disciplina, e o prêmio ao vencedor era uma coroa de louro que dias depois estaria murcha, ao contrário do que é prometido a nós, a coroa da vida eterna que jamais perderá o viço, como Pedro registrou em sua primeira epístola, versos 3-4 (ARA), na magnífica doxologia que inicia louvando: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros…”.

Calvino define a piedade em seu comentário sobre 1 Timóteo como “… o culto espiritual de Deus que se encontra unicamente na consciência íntegra…”, e declara que ela “é o ponto de partida, o meio e o fim do viver cristão; e onde ela é completa, não existe lacuna alguma. (…) Portanto, a conclusão é que devemos concentrar-nos sobre a piedade, pois quando a tivermos alcançado, Deus não requererá de nós nada mais: e devemos prestar atenção nos exercícios corporais só até onde eles não obstruam nem retardem a prática da piedade”.

A prática da piedade, por conseguinte, exige e merece de nós um exercício constante e permanente, que nos trará incomparáveis benefícios pessoais relacionados não apenas à vida presente, mas também à futura, onde nos aguardam bênçãos espirituais eternas com as quais Paulo acena em 1 Coríntios 2.9 (ARA), ao assegurar que “… Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.

Senhor Deus e Pai, ajuda-nos a jamais sermos negligentes no cumprimento daquilo que Tu nos confiaste nesta vida terreal. Pela Tua graça Tu nos proporcionas tudo o que necessitamos para o Teu serviço: corpo, mente, espírito, a Tua Palavra, a Igreja, os irmãos em Cristo, o agir poderoso de Teu Santo Espírito, pessoas enviadas por Ti para nos auxiliar, exortar e admoestar, recursos materiais, e, em especial, Cristo em nós e nós em Cristo. Senhor, ajuda-nos para que nunca nos falte a firme disposição de empenharmo-nos na Tua Obra Suprema dia após dia, atentando ao que a carta aos Hebreus 10.36 (ARA) alerta, ao dizer que, “… tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa”. No nome santo de Jesus oramos agradecidos. Amém.

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