Carne x Espírito

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Carne x Espírito

Um conhecido site tempos atrás publicou o seguinte convite: “Pule o carnaval Carnal, lúdico, dilacerador, espiritualizado, físico, o Carnaval da Bahia é a maior festa urbana do Brasil, criada e mantida pelo povo. Uma manifestação espontânea, criadora, livre, pura, onde todos são – com maior ou menor competência – sambistas, frevistas, loucos dançarinos, na emoção suada atrás do som estridente, eletrizante, do trio. Ou no ritmo calmo, forte, tranquilizante, orientalizado, do afoxé, incorporado num só movimento. Um ato de entrega, de transe e êxtase, de liberação de todas as tensões reprimidas e da envolvência absoluta entre o real e o fantástico, capaz de, num único e frenético impulso, balançar o chão da praça”.

Tal convite lembra aquele que a mundana mulher de Potifar fez a José, tentando seduzi-lo a trair seu marido com ela, mas nós cristãos – como fez aquele homem íntegro que orientava sua vida pela perspectiva divina – devemos fugir da tentação sem pestanejar, sem deixar-nos engodar pela tentativa de persuasão das forças do mal travestidas de alegria, prazer, descontração, luxo, liberdade e novas emoções.

Cerca de 700 anos antes de Cristo, o profeta Isaias, como instrumento escolhido por Deus, passou boa parte de seu ministério atacando os males sociais de sua época, não por ser um reformador social, mas porque via os abusos cometidos pelo povo infiel e rebelde como sinais de grave apostasia espiritual que inevitavelmente levaria à destruição, que por fim acabou se concretizando com o cativeiro babilônico.

Isaias proclamava a indignação de Deus com a bebedice, a ganância e o afastamento dEle através dos chamados “seis ais”, em que, no segundo deles (Isaias 5.11-15 – versão NTLH), alerta sobre a corrupção e a frouxidão moral, traçando um retrato que nos dias de hoje poderiam perfeitamente caracterizar o carnaval brasileiro: Ai dos que passam o dia inteiro bebendo cerveja e vinho, desde a madrugada até tarde da noite, e ficam completamente bêbados!  Nas suas festas há música de harpas e de liras, de pandeiros e de flautas e muito vinho para beber. Eles não se importam com os planos de Deus, o SENHOR, nem levam em conta o que ele está fazendo. Portanto, por causa da sua desobediência, o meu povo será levado prisioneiro para fora do país. O povo e as autoridades morrerão de fome e de sede. O mundo dos mortos, como se fosse uma fera faminta, abrirá a sua boca enorme e engolirá o povo e as autoridades, toda essa gente que vive nas farras e nas orgias. Todos ficarão envergonhados, e os orgulhosos serão humilhados”.

Para melhor adequar esta passagem bíblica aos tempos em que vivemos, propomos a seguinte paráfrase: “Pobres daqueles que acreditam que a alegria, a liberdade e a felicidade podem ser encontradas nos dias desbragados de carnaval, movidos a bebida, drogas, música ensurdecedora e alucinada, prostituição e sexo livre, em lugares em que pensam que Deus não está e portanto não os vê, mas que, caso estivesse e os visse não faria a menor diferença, pois não se importam minimamente com Ele! Então, por conta da sua ignorância, desobediência e ingratidão, o Senhor os entrega à escravidão dos vícios e das doenças incuráveis, permite-lhes morte violenta, e tanto os ricos quanto os pobres finar-se-ão na miséria da fome e da sede material e espiritual. O inferno os aguarda impaciente, como fera com a boca escancarada, e para lá descerão todos aqueles, governantes e povo, que ora divertem-se soberbos, atrevidos, zombadores, alheios às verdades de Deus, entregues à própria sensualidade e impudicícia, e todos serão humilhados, envergonhados, e desaparecerão no pó, na lama e nas cinzas”.

Aproximadamente 750 anos depois de Isaias, o apóstolo Paulo escrevia aos crentes da Galácia, condenando em Gálatas 5.16-21 (NVI) as obras da carne e defendendo a liberdade cristã, porém no Espírito, ao admoestar enfaticamente: Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam. Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei. Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus.

Aos Seus, Deus ordena que andem no Espírito, e isto significa permitir que Ele assuma inteiramente o controle de nossas vidas, em total comunhão com Ele; é estar em Cristo, consentindo que o ministério do Espírito, que é consolar, regenerar, santificar, guiar e testemunhar, se desenvolva em nós. À medida que aprendemos a viver pelo Espírito, a carne vai sendo subjugada, embora esteja sempre presente em nós, o que nega a possibilidade, aventada por alguns, de que a nossa natureza pecaminosa possa ser extirpada, como é arrancada pela raiz a erva daninha de um jardim. Martinho Lutero escreveu: “O pecado original está em nós como a barba. Barbeamo-nos hoje, parecemos apresentáveis e nosso rosto está limpo; amanhã nossa barba cresce de novo, e não para de crescer enquanto permanecemos na terra. De maneira semelhante, o pecado original não pode ser extirpado de nós; ele brotará em nós enquanto vivermos”.

O Espírito e a carne vivem em permanente conflito, e Deus assim o permite para obrigar-nos a estar sempre alertas com relação às nossas fraquezas, e em constante estado de dependência de Jesus Cristo, condição que perdurará até o dia em que Deus nos levar para Si. E Paulo nos adverte, em Romanos 8.13 (ARA), para o risco que corremos de separação eterna de Deus, caso o ego nos domine: “… se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis”, mostrando a necessidade de envidarmos todos os nossos esforços para coibir qualquer cobiça humana pelo mundanismo.

Para sermos guiados pelo Espírito, precisamos ter sede de conhecer a Palavra de Deus, firme disposição para obedecer a ela e prontidão para aplicá-la a cada passo que dermos, dia após dia, sem o que o amor de Cristo não estará em nossas ações, e o Seu poder não controlará nossas atitudes egoístas. Inclinações naturais para o mal todos temos, e é preciso enfrentá-las com decisão, como Paulo ensina em Gálatas 5.24 (NVI): “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos”.

É mister lembrarmos que Deus Se importa com nossa vida de forma integral, não só com o aspecto espiritual, mas também com as questões de ordem material, emocional, mental, social, vocacional e intelectual. Por isso devemos constantemente considerar que somos um ser multifacetado nascido de novo, cuja fonte é o Espírito Santo, nosso guia e controlador amoroso com quem ao verdadeiro cristão é inescapável andar, e a quem estamos obrigados a ouvir e a obedecer sem questionar, seja qual for a área da existência.

Homens de Deus tem-se dedicado à tarefa sublime de exortar os cristãos para que busquem as coisas do alto, deixando de lado a enganosa felicidade dos prazeres terreais, como Agostinho de Hipona, que se converteu após uma juventude de muita devassidão, e escreveu que Se você é sábio, deixe o mundo passar, para não passar com o mundo”. O famoso autor cristão C. S. Lewis, apontava que “Somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições; desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo seus bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia”. Já o conhecido pastor e teólogo britânico John Stott, legou-nos uma afirmativa categórica: “Somente Deus pode dar significado à vida, porque só Ele pode suprir o que está faltando.”

Amado Deus, perdoa-nos pois sabemos que muitas atitudes humanas Te entristecem, e Tu as abominas. É assim com tudo o que permeia o carnaval brasileiro: distorções de ordem sexual, idolatria, feitiçaria, conflitos pessoais, glutonaria, embriaguez, roubos, assassinatos, corrupção, desperdício de recursos financeiros em um país com tanta carência social, e coisas semelhantes a estas, que também nos afligem sobremaneira. Porém sabemos que é aqui, nesta que não é a nossa verdadeira pátria, onde estamos meramente de passagem, que Tu nos colocaste para um propósito, que é o de sermos Tuas testemunhas. Dá-nos, ó Pai, a força, o discernimento e a direção necessários para seguirmos agindo como autênticos Filhos Teus em meio às densas trevas que nos cercam e oprimem, certos de que em Cristo Jesus temos a luz que dissolve a escuridão do mundo. Em nome dEle oramos agradecidos. Amém.

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4 Comentários
  • Eder

    9 de fevereiro de 2016 at 8:30

    Caros irmãos,

    Concordo plenamente com tudo o que escreveram, dei uma olhada geral. Lerei de novo, pois tem muita coisa e apenas complementando e apoiando suas palavras, eu já comentava com uma amiga esta semana sobre o carnaval.
    Em especial falávamos de algo que acho mais diabólico do que o carnaval normal que é o carnaval gospel, que alguns dizem fazer,este é lamentável e incompreensível sob todos os aspectos.
    Transcrevo abaixo o que falei a esta irmã:
    “Concordo irmã que é um absurdo, mas Isaías já nos alertava: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo”. Isaías 8:19 e “Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os advinhos, que chilreiam e murmuram, acaso, não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos”? Isaías 5: 20.
    O povo de Deus está pedindo ao inimigo, o maior inimigo de Deus lições de como adorar a Deus e é claro que ele vai ensinar como blasfemar contra Deus, de uma forma mascarada mas vai nos mostrar isso sempre, e assim nos afastando de Deus.
    Os que são da verdade não estão se alimentando dela, não estão utilizando-a em suas vidas.
    Irmã depois que escrevi isso tudo me lembrei de algo, para fechar, só faltam inventar a expressão “PECADO SANTO”.

    Era isso irmãos, fiquem com Deus, e prossigam em sua nobre tarefa de alimentar o povo de Deus com sua palavra, em Cristo,

    Eder

    • Nanny & Winston

      29 de julho de 2016 at 14:52

      Prezado Eder, agradecemos sua contribuição tão relevante!

  • Lucimar de Moura Santos

    29 de julho de 2016 at 12:02

    Concordo plenamente com o texto acima, realmente o povo desse mundo vivem em um mundo de satisfazer somente a carne e não alimentar o lado espiritual, esquecendo as coisas boas de Deus. Vivendo em um mundo de Sodoma e Gomorra.

    • Nanny & Winston

      29 de julho de 2016 at 14:53

      Caro Lucimar, você tem toda a razão!

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