ATÉ AOS CONFINS DA TERRA

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ATÉ AOS CONFINS DA TERRA

O dr. Samuel Zwemer foi um grande missionário para o mundo árabe, conhecido como o Apóstolo do Islã, e nunca perdia uma oportunidade de pregar sobre Jesus aos árabes. Certa vez anunciava o Senhor Jesus para as pessoas na  sala de espera de um hospital da Arábia, e após ter encerrado sua pregação um beduíno que viajara 800 quilômetros para um tratamento, pediu a palavra e lhe disse: “Eu compreendo tudo que você nos falou porque eu conheci pessoalmente este homem. Ele era um tanto estranho. Quando as pessoas o agrediam com ofensas ele não revidava nem buscava vingança. Continuava cuidando dos enfermos, dos presidiários e  de todos que enfrentavam dificuldades. Ele tratava bem a todos e dizia que todos eram bons. Ele viajava distâncias imensas debaixo de sol causticante apenas para ajudar as pessoas. Ele era tudo o que você disse.” Então o dr. Zwemer percebeu que aquele de quem o árabe estava falando era Peter Zwemer, seu próprio irmão, que tinha também, anos antes, começado um trabalho missionário na Arábia. Embora não tivesse vivido para ver os resultados, Peter foi um exemplo de cristão que revelou Cristo através de sua própria vida de amor pelo próximo.

 

E quanto a nós? Que tipo de rastro temos deixado nos caminhos por onde passamos? Que sinais, lembranças e marcas têm permanecido nos locais onde moramos, estudamos e trabalhamos? Se nossos conhecidos fossem encorajados a nos retratar, de que se lembrariam?  Como seríamos descritos? Jesus seria visto em nós? A melhor maneira de refletirmos a pessoa de Jesus é através de uma vida santa e consagrada, praticando os Seus ensinos e deixando-O agir em nossas atitudes. As pessoas no mundo precisam ver em nós aquilo que ensinamos e pregamos. Só assim poderão constatar que somos verdadeiramente filhos de Deus, discípulos e imitadores de Cristo, servos obedientes ao Seu Ide em Mateus 28.19, e adequadamente instrumentalizados pelo que Ele anunciou em Atos 1.8: mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”.

 

E como poderemos empreender tão extraordinária e desafiadora empreitada de ir “… até aos confins da terra” testemunhando de Cristo? Pelo menos de três maneiras:

 

1. Fisicamente  

 

Deixando tudo para trás: trabalho secular, amigos, parentes, namoro, noivado ou qualquer outro compromisso presente e/ou futuro – para falar de Cristo em um lugar desconhecido, – porque fomos chamados. Muitos foram e muitos estão indo para outras nações até aos confins da terra, e Paulo é um exemplo marcante da convocação irresistível do Senhor: no livro de Atos as passagens de 7.58 e 8.1,3, ainda como Saulo, mostra que ele fazia parte daqueles que participavam do cruel e covarde martírio de Estêvão; surpreendentemente contudo, a passagem de Atos 9.1-30 registra sua conversão após o tremendo episódio na estrada de Damasco, com o seu chamado pessoal por Jesus; então Atos 13 coroa a sua convocação por Deus, descrevendo a sua primeira viagem missionária, revelando uma transformação espiritual maravilhosa que só o Senhor poderia ter idealizado e consumado de forma tão extraordinária!

 

2. Evangelizando onde estamos e orando por missões

 

Embora muitos cristãos provavelmente sintam-se motivados a ir a outros povos para pregar a Cristo, nem todos conseguem realizar esse sonho por múltiplas razões, porém todos – sem exceção – estão aptos a obedecer ao “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo…”, que Jesus em Mateus 28.19 ordena, e foi esta a Grande Comissão que o Senhor nos outorgou. A bem da verdade o mundo todo é um grande campo missionário e devemos falar de Jesus e pregar a Palavra que liberta e transforma onde quer que estejamos: no trabalho, na escola, na vizinhança, na academia de ginástica, no aeroporto, no avião, no ônibus, nas viagens, nos locais onde vamos em férias, e assim por diante. E com as novas tecnologias digitais que estão à nossa disposição, fazer missões pelas mídias sociais tornou-se também um poderoso instrumento de proclamação do Evangelho a muitas pessoas em muitos lugares.

 

E devemos também assumir um ministério de intercessão por aqueles que estão na linha de frente, em países próximos ou distantes, entre povos de outras culturas, línguas e crenças. Até mesmo Paulo, incumbido pelo próprio Cristo de ir e tendo este privilégio, não prescindia dos missionários intercessores, e isto fica patente na carta aos Efésios 6.17-20: “Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo”.

 

Portanto, a oração é uma poderosa ferramenta de fazer missões, e quando oramos fazemos parte de um grande contingente de missionários que intercedem em favor dos que estão nos campos de batalha espiritual. Muitos podem dizer que não podem ir, e realmente não podem; contudo, muitos também podem dizer: mas posso orar. Muitos dos que ouviram a Grande Comissão de Jesus não ultrapassaram os limites de Jerusalém, alguns chegaram até Samaria, outros não saíram dos limites da Judéia, e outros ainda puderam deixar tudo para ir aos confins da Terra. O que os fez iguais, é que todos cumpriram a Grande Comissão.

 

3. Através da contribuição

 

Contribuir com missões não é uma invenção da igreja dos nossos tempos, pois a igreja do primeiro século já sustentava seus missionários por meio de contribuições voluntárias. Como exemplo, em 2 Coríntios 9, Paulo faz um caloroso agradecimento aos membros da Igreja de Corinto pelas contribuições que faziam para os cristãos de Jerusalém, recomendando em 9.7-8: “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra…”.

 

Como um excepcional exemplo de fervor missionário, a extraordinária e muito conhecida história dos morávios merece sempre ser relembrada por todos os cristãos. A Morávia é uma região da Europa central que compõe atualmente a parte oriental da República Checa. Com o seu zelo por Cristo, os morávios escreveram uma das páginas mais nobres das missões cristãs em todos os tempos, e nenhum grupo protestante teve maior consciência do dever missionário ou demonstrou tamanha consagração a esse serviço em proporção ao número de seus membros.  Seu grande líder inicial e incentivador na obra missionária foi o piedoso conde, teólogo e bispo da Igreja Morávia, Nikolaus Ludwig Von Zinzendorf (1700-1760).

 

Numa viagem a Copenhague para assistir à coroação do rei dinamarquês Cristiano VI, Zinzendorf conheceu alguns nativos convertidos das Índias Ocidentais e da Groenlândia que lhe pediram “o senhor não pode fazer alguma coisa para nos enviar missionários?”, e este pedido tocou-o profundamente.  O renascimento da Igreja Morávia, em maio de 1727, havia resultado em grande parte de uma poderosa ênfase na oração, e nos meses seguintes este espírito de oração tomou conta da pequena comunidade evangélica, a tal ponto que no dia 27 de agosto daquele ano 24 homens e 24 mulheres comprometeram-se a orar uma hora por dia de forma sequencial, de modo que, sem interrupção, sempre houve alguém orando por missões.

 

Essa “vigília de oração” motivou Zinzendorf e a comunidade morávia a tentarem alcançar mais vidas para Cristo. Seis meses após o início da vigília, o conde desafiou os companheiros a evangelizarem as Índias Ocidentais, a Groenlândia, a Turquia e a Lapônia, e no dia seguinte, 26 morávios se ofereceram como voluntários para as missões mundiais, não importava onde Deus desejasse levá-los. A vigília de oração prosseguiu sem interrupção, vinte e quatro horas por dia, durante mais de 100 anos, sendo que em 1792, sessenta e cinco anos após o início da vigília, a pequena comunidade morávia já havia enviado 300 missionários aos confins da terra.  Com seu heroísmo, apego às Escrituras e consagração a Deus, os morávios, embora pouco numerosos, exerceram uma forte influência espiritual sobre outros grupos e movimentos protestantes, especialmente na Inglaterra.

 

Em 1832 já havia 42 campos missionárias morávios ao redor do mundo, todos mostrando uma característica do trabalho morávio: em geral eram locais difíceis e inóspitos, exigindo paciência e dedicação especial, traço que até hoje caracteriza o trabalho missionário desse grupo, cujo  lema missionário que  assumiam deixava isso ainda mais claro: “Conquistar para o Cordeiro a recompensa de seu sacrifício”.

 

A convivência com alguns morávios causou profundo impacto em John Wesley e contribuiu para a sua conversão e o surgimento do metodismo; William Carey, o pioneiro das missões batistas, os admirava grandemente e apelou para o seu exemplo de obediência. Eles também inspiraram a criação de duas das primeiras agências protestantes de missões – a Sociedade Missionária de Londres (1795) e a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804).

 

Paulo, em 1 Coríntios 9.23, revela que o motivo para a igreja fazer missões deve ser o próprio Senhor Jesus Cristo, afirmando: Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. Evangelho é, ao mesmo tempo, a mensagem e o conteúdo da mensagem, ou seja, o Evangelho é o próprio Jesus Cristo. Fazer missões é salvar os perdidos, é obediência à ordem de Jesus, é ação para transformar o mundo. Mas precisamos ser movidos, acima de tudo, por um sentimento de gratidão pelo que Cristo é e por tudo que Ele fez em nosso favor, por isso devemos fazer missões para anunciar Aquele que deu a vida e ressuscitou por nós.

 

O apóstolo Paulo percorreu o mundo da sua época pregando o evangelho, e em 1 Coríntios 9.16 nos constrange: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” Charles Spurgeon, por sua vez, afirmou categoricamente: “Todo cristão ou é um missionário ou um impostor”. E nós, o que somos? O que estamos dispostos a fazer por amor a Cristo? Estamos conscientes de que temos a responsabilidade de fazer tudo que estiver ao nosso alcance para que o Evangelho seja pregado em todo o mundo?

 

Senhor nosso Deus, numa sociedade em que as pessoas estão dando suas vidas por causas que não se justificam, por valores que não são os Teus, Pai, por questões materiais que nada constroem para a Tua causa, por outras coisas que embora espirituais não são Tuas, é em Cristo, por Cristo e para Cristo que estamos dispostos a ir até onde Tu nos conduzires, até aos confins da terra guiados por Ti, amparados por Ti, capacitados por Ti! Sensibiliza-nos, fortalece-nos, unge-nos, pois, Senhor, para sermos Teus servos bons, obedientes e úteis. É no nome santo de Jesus que assim oramos agradecidos. Amém.

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