Ano da Graça do Senhor

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Ano da Graça do Senhor

Quase um ano após o episódio da tentação no deserto – tempo em que ministrava na Judeia, como é narrado em João 2-5 – Jesus volta para a Galileia, dá início ao segundo ano de Seu ministério público, e a Palavra relata em Lucas 4.14-15 (ARA) que, “Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galileia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhança. E ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos”. Em Nazaré, onde vivera a juventude, anuncia Seu ministério, como Lucas 4.16-21 (ARA) descreve: “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor’. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. Então, passou Jesus a dizer-lhes: ‘Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir’”, e essa última afirmativa é uma clara declaração de que Ele era o Messias esperado.

As implicações da missão de Jesus são extraordinárias, e envolvem os grandes problemas que a humanidade tem enfrentado há milênios e tentado em vão resolver. Mas o Senhor Jesus veio para nos livrar dessas aflições históricas que têm nos atormentado, e na versão Nova Bíblia Viva lemos que Deus a Ele “…ungiu para levar as boas notícias de salvação aos pobres..”, pregando o Evangelho aos carentes, aflitos e humildes; “…consolar os que estão com o coração quebrantado…”, curando as dores físicas, morais e espirituais dos enfermos e alquebrados; “…anunciar liberdade aos cativos…”, quebrando os grilhões do mal que prendem aqueles que estão presos ao pecado e a satanás; “…dar vista aos cegos…”, descerrando os olhos espirituais dos perdidos para que enxerguem a poderosa luz do Evangelho e sejam salvos; mas para, principalmente, “…proclamar o ano da graça do Senhor…”, trazendo o esplendoroso alvorecer de um novo tempo de consolo, alívio e refrigério para todos, mormente para as incontáveis multidões de pessoas oprimidas, desvalidas e perdidas que habitam esse mundo. Ele é a nossa única esperança, a única solução para todos os males que nos atormentam, sejam eles de ordem física, moral ou espiritual.

Na sinagoga, Jesus leu apenas a primeira parte do livro de Isaias 61.2, pois o propósito de Sua primeira vinda foi somente apregoar o ano aceitável do Senhor (v. 19), a era da graça, o tempo aceitável por Ele inaugurado; a segunda parte, O dia da vingança do nosso Deus, acontecerá quando da Sua segunda vinda, e será o tempo do julgamento; a cruz e a salvação são marcas de Sua primeira vinda, enquanto que o juízo e os galardões da segunda.

O ano aceitável do Senhor é uma referência ao Ano do Jubileu, cujas leis se encontram no Livro de Levítico 25.8-55, onde o Senhor estabeleceu, entre várias ordenanças, que de sete em sete anos a terra deveria descansar, configurando um ano sabático. A cada cinquenta anos ocorria o ano do jubileu, quando não deveria haver plantio ou colheita, toda a terra voltava a seus donos originais, os escravos eram devolvidos a suas famílias e todas as dívidas eram canceladas.

O teólogo, pastor, conferencista e escritor Warren Wiersbe observa em seu Comentário Bíblico Expositivo que “Jesus aplicou tudo isso a seu ministério, não em termos políticos ou econômicos, mas em sentido físico e espiritual. Sem dúvida, havia trazido as boas-novas da salvação aos pecadores falidos, e cura aos aflitos e rejeitados. Havia livrado muitos da cegueira, da escravidão de demônios e de enfermidades. De fato, era um ‘ano de jubileu’ espiritual para a nação de Israel!’”.

Enquanto isso, neste minúsculo planetinha inserido com a perfeição divina no universo infinito, vemos ano após ano se repetir ilusória e monotonamente os mesmos eventos no período que compreende o final de um ano e o início do ano subsequente do calendário gregoriano: retrospectivas do ano que passou, descida da bola na Times Square de Nova Iorque, queima de fogos na Baía de Guanabara, no Rio, e em várias outras cidades do mundo, espocar ensurdecedor de foguetes à meia-noite por todo o Brasil, entrega de oferendas a Iemanjá nas praias, “previsões” de “videntes” para o novo ano, augúrios de cientistas políticos e econômicos que raramente se concretizam, resoluções de ano novo que nunca são cumpridas, prática de atos supersticiosos adquiridos das seitas afro-brasileiras, como usar roupas brancas, comer sementes de romã e pular sete ondas na praia, champanhes estourando para comemorar algo que não se sabe bem o que… Nada muda nessa repetitiva utopia que tenta enxergar na mudança no calendário do dia 31 de dezembro para o 1o de janeiro poderes místicos que eclodem à meia-noite, com o imaginário popular transformando este momento em uma espécie de hiato entre uma fase passada da história e outra futura, esta prenhe de novidades, modificações, conquistas e perdas, avanços e retrocessos, e transformações de várias ordens, o que trata-se, obviamente, de pura fantasia.

É claro que vista do ponto de vista fiscal, a passagem de um ano para o outro traz implicações de ordem econômica, administrativa e contábil que exigem planejamento, mas que se circunscrevem apenas ao âmbito secular, nunca envolvendo questões de domínio divino, como alguns parecem pretender, o que está sempre condicionado a pessoas que se reúnem em Seu nome.

Já nos primeiros dias do ano constatamos, consternados, os resultados da verdadeira guerra urbana e interurbana travada nesse período a propósito de nada, e cujas estatísticas a mídia revela serem cada vez piores a cada ano que passa, em especial por conta do alto consumo de álcool e estupefacientes: acidentes nas ruas e nas estradas, assassinatos, conflitos domésticos, brigas em bares e em bailes funk, furtos, roubos e assaltos, apreensões de drogas, prostituição infantil, tudo isso e muito mais, em nome da “alegria”, do “aproveitar a vida”, do “comemorar”. Como diria o Eclesiastes: tudo vaidade.

Não há como deixar de concluir que todo esse quadro compõe uma ilusão insana, inconsequente e irresponsável inspirada e dirigida por satanás, o príncipe de um mundo onde não há lugar para Deus, ou onde Ele, na maioria dos lugares, é apenas um detalhe secundário, e o hedonismo exacerbado domina pessoas, ambientes, atitudes, conceitos e objetivos de vida. Mas Paulo, em Gálatas 6.7 (NTLH), adverte com gravidade a estes que dessa forma agem: “Não se enganem: ninguém zomba de Deus. O que uma pessoa plantar, é isso mesmo que colherá”.

E é o mesmo apóstolo que em Romanos 12.2 (ARA) determina: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. A comparação com outras versões bíblicas pode ser útil, pois esclarece e reforça em linguagem atual a prescrição paulina, que adverte,  na versão NTLH, “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo…”; na NVI, “Não se amoldem ao padrão deste mundo…”, e na Bíblia Viva, “Não imitem a conduta e os costumes deste mundo…”.

Portanto, a ordem cabal de Deus é para não aderirmos à conduta, hábitos e práticas mundanos, porque Ele, e só Ele, tem os planos perfeitos que satisfarão a todas as nossas reais necessidades, e que situam-se muito além de qualquer riqueza, conquista, modismo, criação ou avanço de ordem meramente humana. O Senhor deseja que sejamos transformados em um povo de mente renovada, obediente e fiel, jamais nos modelando pelo usual agir distorcido do homem natural – em geral egocêntrico e muitas vezes corrupto – para podermos então estar aptos a nos entregar e ser aceitos a Seu serviço como “…sacrifício vivo, santo e agradável…”.  Mas, cuidado! Não caiamos na armadilha de evitar e até criticar o que o mundo segue e crê, no entanto manifestando uma atitude arrogante, ambiciosa, obstinada, legalista, orgulhosa e egoísta que Deus abomina. Lembremos que só mediante a ação poderosa do Espírito Santo, que nos reeduca, reorienta e renova, somos verdadeira e permanentemente transformados para fazer a vontade do Pai.

É preciso aqui deixar claro que nada obsta que comemoremos o findar do ano fiscal, manifestando nossa gratidão a Deus por ter nos sustentado a cada dia, rendendo graças como o profeta em 1 Samuel 7.12 ao reconhecer que “até aqui nos ajudou o Senhor…”, com a certeza de que, se continuarmos fiéis e obedientes a Ele, o próximo ano estará sendo guiado por Sua mão poderosa, que nunca deixa de nos dirigir, proteger e prover de tudo o que necessitamos.

Por isso, nada temamos, porque aqueles que como nós entregaram suas vidas a Cristo e são Seus discípulos, já estão todos, nesse dia, nesse momento, vivendo o ano aceitável do Senhor, o ano da graça do nosso Deus, que não trata-se apenas de um curto e transitório período de 365 dias, mas de uma nova era eterna de paz, de cura, de bênçãos, de libertação, de restauração, de salvação, que ele reservou para aqueles que O amam!

Senhor Deus, Pai Eterno Todo-Poderoso, rogamos contritos que nos capacite, nesse ano da Tua graça, a melhor servir-Te, a mais adorar-Te, a incessantemente buscar-Te, a sempre honrar-Te, a consistentemente obedecer-Te, a humilde e consistentemente assumir a comissão que Tu nos delegaste de proclamar as Boas Novas a todos os que pudermos. Dá-nos também a Tua força para que jamais descuremos de Teus preceitos, ordenanças e mandamentos, permitindo que o mundanismo venha a fazer parte de nossa vida. Assim oramos agradecidos em nome de Jesus. Amém.

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