junho 2010

Concordes no Senhor

O Senhor nosso Deus é o maravilhoso e soberano construtor de tudo o que há.

E como perfeito construtor, tudo o que criou tem função e lugar precisos no todo da existência. Basta apenas observarmos a maravilha da Sua criação que é o corpo humano, por exemplo: cada órgão interligado com os outros numa harmonia perfeita, exercendo funções complementares e indispensáveis para o conjunto; cada sistema orgânico igualmente em perfeita sintonia com o todo, provendo, um a necessidade de oxigenação, outro a vital circulação sangüínea, outro ainda o essencial processamento dos alimentos, e assim por diante.

E na natureza – bênção que ele concebeu para nosso proveito – observemos apenas como crescem os vegetais, em harmonia total com a terra, de onde extraem o próprio alimento, por um lado, com os ciclos naturais da chuva e do sol, por outro, produzindo ao fim e ao cabo, o grão, a fruta, o legume, a verdura, o tubérculo e outros vegetais essenciais à nossa vida e à dos animais.

E que dizer da espantosa semelhança entre a configuração físico-espacial de um imenso sistema solar e de um microscópico átomo? E tudo isto, tão incrível e absurdamente perfeito, maravilhoso, integrado, é apenas uma ínfima parte do que Ele criou! Como Davi, deveríamos, a cada dia, nos rejubilar proclamando hinos de louvor ao Senhor por todas as suas maravilhas: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmo 19.1).

Mas na grandiosidade da obra divina, a jóia de Sua criação somos nós, os seres humanos, que existimos para glorificá-lO, e para gozá-lO para sempre.

Nesta posição especial, à qual foi elevado unicamente pela graça de Deus, o homem não foi destinado a viver só, isolado de seus semelhantes; ao contrário, Deus o fez para ser gregário, para que associado a outros também construísse aquilo que é de sua competência e responsabilidade.

E a alguns Ele elegeu para serem Seus filhos, para constituir a Sua família, a família da fé. A estes Deus determinou que sejam unidos. Quando Jesus se preparou para sua própria morte, uma das primeiras coisas em sua mente foi a unidade dos seus discípulos: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.20-21). Assim como os peixes se movem e sobrevivem somente na água, e nós seres humanos só existimos e nos movemos em meio ao oxigênio, assim também a unidade é o elemento no meio do qual as coisas celestiais existem e se manifestam. Deus está no céu onde sua glória é plenamente manifestada e foi contra essa harmonia gloriosa que Lúcifer atentou. Ele dividiu e conspurcou o céu, afrontou a Deus, por isso foi expulso. Mas Cristo morreu para purificar tanto as coisas do céu quanto as da terra, conforme lemos em Hebreus 9.23.

Nada proveniente de Deus pode se estabelecer onde a unidade e a concórdia no Senhor estejam ausentes, e por este pressuposto, todo aquele que quer glorificar a Deus, deve contribuir para a unidade entre irmãos: “Assim, pois, seguimos as cousas da paz e também as da edificação de uns para com os outros” (Romanos 14.19). Em Efésios 4.3, Paulo instrue: “esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; ” e em Filipenses 2.2-4: “completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma cousa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”. O apóstolo também deu a fórmula prática para esta concórdia essencial, quando escreveu à igreja dividida em Corinto, em sua primeira carta, capítulo 1, verso 10: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis a todos a mesma cousa e que não haja entre vós divisões, antes, sejais inteiramente unidos na mesma disposição mental e no mesmo parecer.” Isso significa – como cristãos que somos – concordar, falar a mesma coisa, não termos divisão no coração, sermos inteiramente unidos, termos a mesma disposição mental, termos a mesma visão acerca das coisas de Deus. Concordar é sermos como foram os primeiros cristãos, que perseveravam unânimes todos os dias e tinham um só coração e uma só alma.

O padrão que nos é exigido é o do Espírito Santo, que é termos unidade segundo Deus, como Jesus Cristo, em João 15.12 determina: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Porque o amor, irmãos, é a pré-condição essencial, indispensável, basilar, para que estejamos unidos e concordando no Senhor.

E para isto precisamos orar mais, muito mais, pois sabemos que a oração é a força que nos mantém em comunhão com Deus. Mas somente conseguimos orar de verdade quando o nosso corpo está abatido, contrito, e o nosso velho homem morto na cruz, pois só desta forma nosso espírito estará preparado para ser recipiente transbordante do amor de Deus (2 Coríntios 12.9,10). Logo, o segredo do amor revela-se na prática da oração perseverante: “Orai sem cessar” (1 Tessalonicenses 5.17).

Um conhecido conto judaico diz que sabendo que ia morrer, um velho pai dividiu a fazenda entre os dois filhos homens e colocou na cerca um pequeno portão para que os irmãos se visitassem. Um irmão era casado e tinha dois filhinhos, mas o outro era solteiro. Cada um vivia na sua casa e eram amigos, unidos e felizes. Trabalhavam de sol a sol em suas plantações de trigo, e naquele ano a colheita tinha sido abundante. O filho casado acordou à meia-noite pensando no seu irmão solteiro: “Coitado dele! Enquanto tenho uma esposa que me ama, cuida da casa, prepara todos os dias gostosa comida, tenho dois filhinhos lindos, meu irmão não tem nada disto! Eu quero alegrá-lo um pouco. Deus tem abençoado tanto a minha colheita que eu vou agora mesmo pegar do meu celeiro um pouco de trigo e levar para o celeiro dele”. Era noite de lua cheia e o luar clareava os campos e os caminhos. Ele foi, agarrou um molho do melhor da colheita e se dirigiu para o pequeno portão a fim de entrar na propriedade de seu irmão, para lhe fazer uma surpresa. No entanto, aconteceu que naquela mesma noite, também à meia-noite, o irmão solteiro perdeu o sono preocupado com o irmão casado: “Coitado dele! Trabalha tanto e ainda tem que sustentar a esposa e os dois filhinhos, enquanto tudo que ganho é só para mim. Tenho pena dele. Quero alegrá-lo. Deus tem abençoado tanto a minha colheita que vou levar do meu celeiro um bocado do meu trigo para o celeiro dele!” Abraçou um bocado do seu melhor trigo se dirigiu para o pequeno portão. Quando o irmão casado abria o portão, também chegava ali o irmão solteiro! Um olhou para o outro, surpreso, porém imediatamente compreendendo tudo. Largaram seus molhos de trigo e emocionados se abraçaram demoradamente, por ver o quanto se amavam e o quanto eram unidos! A unidade com amor é divina!

Conquanto os métodos humanos para manter a unidade possam parecer práticos e eficientes, os verdadeiros seguidores de Jesus procurarão manter a unidade no modo que Ele nos ensina nas Escrituras. Consideremos alguns textos importantes que nos auxiliarão a entender o que Jesus quer que façamos.
Em João 17.17-23 podemos constatar que Jesus revela a base da unidade que agrada a Deus, para que concordemos no Senhor. Nossa unidade tem que ser modelada pelo exemplo divino.

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são pessoas distintas, mas concordam em tudo o que dizem e fazem. Os cristãos, portanto, precisam desenvolver a mente de Cristo através do estudo da sua palavra, para que possam aprender a pensar como Deus pensa (1 Coríntios 2.9-16), e ajam sempre concordes no Senhor.

E o que é muito importante, até mesmo para realização da evangelização que Ele nos comissionou, pois a relação amorosa entre cristãos é evidência, para o mundo, de que nosso Senhor veio do Pai (João 17.21-23). Ainda em 1 Coríntios 1.10, o apóstolo apela aos irmãos, mostrando que a palavra revelada é a base de nossa unidade, que deve ter como base Jesus Cristo.

Quando seguimos cuidadosamente Sua autoridade em tudo o que fazemos, evitamos as divisões que vêm das opiniões, das doutrinas, dos interesses humanos (Colossenses 3.17), e a humildade desprendida de Jesus é nosso exemplo perfeito (Filipenses 2.1-8; Romanos 12.9-10, 15-18).

Quando somos fiéis a Cristo, estamos seguros da comunhão com Ele e com seus verdadeiros seguidores (1 João 1.5-7).

Devemos, no mesmo sentido, incentivar a paz permanentemente, porém não ao preço da verdade. Se formos forçados a escolher entre a pureza da doutrina de Cristo e a paz com nossos irmãos, é forçoso colocar Deus em primeiro lugar.

É melhor estar próximo de Deus e longe dos homens, do que estar perto dos homens e longe de Deus. A unidade que Deus deseja é entre Ele e seus servos obedientes (João 14.23) e, em conseqüência, entre os irmãos que servem ao mesmo Senhor (1 Coríntios 1.10).

A unidade artificial é fácil de ser conseguida. Os homens são capazes de esconder diferenças reais e criar alianças ímpias, como o faziam os fariseus e os herodianos quando se uniam contra seu adversário comum, Jesus Cristo. Mas a concordância integral no Senhor requer trabalho duro: exige estudo diligente, humildade genuína, amor desprendido pelos irmãos e, acima de tudo, amor intransigente por Deus e por Sua Palavra.

Pai Santíssimo, ajuda-nos a desenvolver a mente de Cristo para que possamos servir-Te juntos totalmente concordes, gozando de plena comunhão conTigo e entre nós! Em nome de Cristo Jesus. Amém.

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Construindo e Edificando

Ninguém constrói obra de porte, significativa, marcante, de qualidade, sozinho. Para a execução, por exemplo, de uma obra de construção civil, de uma edificação, mesmo que de pequeno porte, é necessário o concurso de um arquiteto, responsável pelo projeto arquitetônico e coordenador de todos os projetos, dos demais responsáveis pelos projetos ditos complementares – no mínimo o estrutural, o elétrico e o hidráulico. Em alguns casos, especialmente quando as obras são de maior vulto, a equipe precisa ser ampliada, aderindo a ela projetistas de climatização, de paisagismo, de pavimentação, de elevadores, de impermeabilização, de comunicação visual, etc.

E estamos falando apenas da fase de projetos. A etapa de execução da obra, por sua vez envolve outros profissionais: o construtor e os encarregados de executar cada uma das partes da obra de acordo com cada projeto. Não é possível se obter um resultado otimizado, com um “faz-tudo” à frente de empreendimento deste tipo, mesmo sendo profissional diplomado na área da construção civil.

E isto vale – nas devidas proporção e forma – para tudo o que se construa, de um eletrodoméstico a uma grande barragem, passando por um avião, por uma cadeira, por uma prótese ortopédica ou por um ministério da igreja.

Desta forma, quando o caso é de construção, vale o velho adágio: “uma andorinha só não faz verão”. Por isso é essencial construirmos juntos, em equipe, cada um contribuindo com sua parcela de esforço e conhecimento para que o resultado final seja o melhor possível.

Seja com relação a um casamento, a uma empresa, a um ministério da igreja ou à própria igreja, precisamos compreender – acima de qualquer dúvida – que só é possível empreender uma obra bem sucedida juntos, em equipe, em comunhão uns com os outros, todos envolvidos no mesmo propósito, em Cristo.

Acerca disto, em Romanos 12.4-5, a Palavra de Deus nos ensina: “Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada”.

E o verbo edificar – normalmente utilizado como sinônimo de construir – ao assumir o sentido de induzir ao bem com bons exemplos, torna-se componente indispensável da construção exitosa, como Paulo, em 1 Tessalonicenses 5.11 exorta: “…edificai-vos reciprocamente…”, e também ensina em  1 Corintios 10.23: “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.”

A edificação precisa estar presente em toda e qualquer obra realizada para Deus. Edificar um irmão não significa valer-se de elogios falsos e mentirosos, de mera bajulação, mas sim sempre ressaltar suas qualidades, seus dons, que colaboram para obra do Reino, que é o objetivo comum.

Em Efésios 4.29-30 o apóstolo tece esta admoestação lapidar: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.

Para construir juntos é também indispensável haver comunhão, que inicia-se quando há respeito, amor, dedicação, confiança, proteção e carinho de uns para com os outros.

No período da igreja primitiva os irmãos perseveravam nesta comunhão, havia o desejo de estarem juntos, de elevarem gratidão e louvores a Deus. Não havia intrigas e nem preferências. Cada um procurava, acima de tudo, o interesse de Deus para o próximo. Perseveravam juntos nas lutas e nas dificuldades, e buscavam nas adversidades expectativas de vitórias. A Bíblia diz em 1 Corintios 6.7: “O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros…”.

A comunhão produz o amor Ágape, aquele que não possui interesse próprio, não depende do que a pessoa é ou faz (Filipenses 2.1-4). Quando amamos desejamos estar juntos, em comunhão no amor, esquecendo-nos do que ficou para trás e caminhando irmanados, abraçados, rumo ao propósito de Deus.

Na Carta aos Colossenses, Paulo mostra que Cristo é o Centro dos relacionamentos cristãos, e que Sua obra por nós é a única possibilidade de vivermos relacionamentos para a Sua glória, como ele registra no capítulo 3, verso 3: porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.

É contristador observar que muitos crentes não emprestam aos relacionamentos cristãos o devido valor, mas Paulo não só salienta a sua importância, como descreve o padrão de Deus para eles. Ter comunhão é muito mais que estar juntos; só conseguimos ter comunhão verdadeira quando:

1. Deixamos de lado atitudes que prejudicam os relacionamentos (Colossenses 3.1-9)

Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. (v. 1).

2. Consideramos a todos de forma igualitária

“no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos.” (v.11)

3. Colocamos em prática o exemplo de Jesus

“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. (v. 12-14)

4. Desfrutamos dos benefícios

“Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos.” (v. 15)

5. Edificamos os outros

Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.

6. Oramos juntos

“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. (Colossenses 4.2)

Irmãos, é preciso sempre nos recordarmos do significado cósmico de Cristo como Senhor da Criação e Cabeça da Igreja, e que qualquer prática que diminua a singularidade e a centralidade de Cristo, é frontalmente contrária à fé e à santificação de que tanto necessitamos.

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3.17)

Pai nosso que estais nos céus, santificados sejam Teus filhos que estão empenhados em ser instrumentos da Tua obra de redenção da humanidade caída, por meio da proclamação da Tua palavra, como servos Teus construindo juntos segundo a Tua vontade, os Teus planos e os Teus propósitos. No nome santo de Teu Filho Jesus. Amém.

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Fraternidade

“… assim como nos escolheu nele [em Cristo] antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele…” É assim que o apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios 1.4 se refere a nós, Seus eleitos para constituirmos a família de Deus, e para O honrarmos e glorificarmos em espírito e em verdade.

E o apóstolo Pedro, em 2 Pedro 1.5-7 também nos exorta: “…reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.

Estamos porventura correspondendo a esta bênção extraordinária da eleição em Cristo, a esta graça imensurável que recebemos? Como estamos convivendo com nossos irmãos, notadamente os da família da fé? Será que os amamos efetivamente – uma vez que a família de Deus é composta daqueles que são tão nossos próximos quanto se poderia esperar – ou a murmuração, a rejeição e a crítica estão tomando conta de nossos relacionamentos? Cuidamos mais das exterioridades, dos comportamentos, do que é visível, que dos aspectos da alma, focando apenas nossos próprios umbigos, cegos para as ordenanças de Deus? Participamos de alguma “panela” que exclui irmãos? Manifestamos desrespeito e desconsideração pelas pessoas que, na nossa avaliação, não são “dignas” de pertencer ao nosso tão seleto “círculo de amizades”?  Jesus, em Marcos 13.33 nos diz: “Estai de sobreaviso, vigiai [e orai]; porque não sabeis quando será o tempo.” E se Cristo voltasse amanhã? Será que estaríamos tranqüilos e seguros quanto à aprovação pelo Senhor da nossa conduta com relação a nossos irmãos? Poderíamos receber o juízo de Deus certos de que temos convivido com eles da maneira que Ele espera de Seus eleitos?

Não nos iludamos. Em 1 Pedro 4.17, o apóstolo alerta: Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada;…”, pois até mesmo os crentes serão julgados para a purificação da igreja. E é oportuno relembrarmos Gálatas 5.19-21: “Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.

O verdadeiro cristão não pode ser deferente para com aqueles que detêm o poder, ou cargos, ou bens materiais, e indiferente com relação aos demais, que sejam desprovidos de tais condições. A fraternidade que Deus espera de nós, Sua família, deve se manifestar sempre como amor equânime de uns para com os outros em Cristo, com respeito, consideração, cuidado, cortesia, atenção, delicadeza, boa educação, gentileza, carinho e afeição entre todos, indistintamente, sem discriminação de qualquer espécie, numa perfeita comunhão e mutualidade.

E isto deve partir em especial das lideranças que, por sua posição, concentram maior parcela de responsabilidade na construção do sadio ambiente cristão em que o Senhor espera que convivamos, como eleitos que somos. Líder cristão precisa ser modelo de relacionamento e agente agregador de seus liderados, luz que ilumina caminhos que são de todos, sal que dá sabor aos desafios enfrentados em conjunto. O corpo não pode subsistir saudável, equilibrado e harmônico se a mão maltrata os olhos, a língua fala mal dos ouvidos, a boca detesta o nariz e o pé desfere agressões contra a perna. Se isto vale para o corpo humano, que dirá para o corpo de Cristo, não sujeito ao controle centralizado de um cérebro, que faz valer automaticamente o instinto de auto-preservação.

Como na historinha do sapo e do escorpião, que precisavam atravessar aquele córrego, e para isto tinham que ser solidários, apesar da diferença de suas naturezas pessoais, assim nós precisamos ser igualmente solidários uns com os outros – malgrado nossa natureza pecaminosa – para conseguirmos bem atravessar o rio da vida terrena. Não podemos viver em rivalidades inúteis e fúteis – seguindo o mau exemplo, dado em todos os campos especialmente por Brasil e Argentina – permanentemente se espicaçando, criticando um ao outro, debochando, procurando rebaixar seu próximo geográfico a toda e qualquer oportunidade. Não somos “hermanos”, mas sim irmãos em Cristo, e nossa vitória não é, definitivamente, de um contra o outro, mas de todos juntos contra o mal e as trevas que nos envolvem; não para gloriarmo-nos a nós próprios, mas sim para que fraternalmente irmanados tudo façamos para honra e glória de nosso Pai celeste. Em Colossenses 3. 12-14, Paulo ensina: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. O que são estas vestes com as quais devemos nos revestir?

A primeira delas é a da misericórdia, que é, literalmente, o amor de Deus em nós, fluindo para alcançar nossos semelhantes. Nunca desprezaremos nenhum ser humano se o amarmos como Deus o ama.

Em seguida vem a veste da bondade, que é o amor em ação. Nunca conseguiremos ser hostis, desagradáveis ou ásperos com alguém, se o amarmos.

Em seqüência temos a veste da humildade. Um dos piores pecados da carne é o orgulho. Hoje, muitas pessoas são presunçosas, exaltadas e arrogantes. Mas quando verdadeiramente estamos em Cristo, nos tornamos humildes de espírito, pois o Espírito de Cristo nos quebranta. Lemos em Romanos 12.3: Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Portanto, “amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (v. 10).

A próxima veste celestial é a mansidão. Se os outros são vaidosos, presunçosos e orgulhosos, envolvendo-se em conversas caluniosas, odiosas, gerando “fofocas”, nós que levamos o nome de Cristo precisamos nos lembrar  da Sua exemplar mansidão, que foi uma das qualidades mais notáveis do Senhor Jesus. A mansidão é um dos instrumentos mais poderosos de que dispomos para levar Cristo a todos aqueles que não O conhecem.

A seguir, temos que nos revestir com a veste da paciência. Talvez não haja graça que precise ser mais cultivada entre os filhos de Deus do que esta. Devemos ser pacientes na tribulação, na perseguição, nas aflições, pacientes com pessoas de relacionamento difícil. A instrução santa, reiterada, aqui associada à paciência, é que devemos “suportar-nos uns aos outros” (Colossenses 3.13 e Efésios 4.2).

A próxima veste que precisamos usar é o espírito de perdão: assim como Cristo nos perdoa, devemos perdoar, e devemos fazê-lo por amor a Ele.

Mas, acima de tudo, precisamos nos revestir da veste mais excelente que é o amor. A Bíblia NTLH, registra em Colossenses 3.14: “E, acima de tudo, tenham amor, pois o amor une perfeitamente todas as coisas.” O amor é a resposta a todos os problemas de relacionamento com nossos semelhantes, e especialmente com nossos irmãos em Cristo. Revestidos do amor de Cristo, todos os nossos preconceitos desaparecerão; toda a nossa raiva, malícia, má vontade e ciúmes cessarão, quando o amor de Deus possuir nossos corações, como lemos em 1 Coríntios 13.13: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior destes é o amor.”

E podemos justapor estas palavras preciosas do apóstolo Paulo a outras suas, escritas em Colossenses 3.15,16: Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.

Senhor, nosso Deus e Pai, dá-nos a unção do Teu Santo Espírito para que nossa convivência como eleitos seja aquela que agrade ao Teu coração; ajuda-nos a nos revestir com todas as vestes de justiça, especialmente com o amor de Cristo – que é verdadeiramente o cumprimento da Tua lei – e com a gratidão a Ti – que nos perdoas infinitas vezes, e não somente setenta vezes sete. Em nome de Jesus. Amém.

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