outubro 2010

Incapazes da Inocência

Pastor e presidente do Seminário Teológico de Dallas, Texas, o escritor cristão Charles Swindoll, em seu livro “Paulo – Um Homem de Coragem e Graça”, conta uma historinha a respeito de um casal que fazia uma dupla comemoração: festejava seu sexagésimo aniversário e ao mesmo tempo o quadragésimo de casamento. À noite, enquanto comemoravam, uma fada apareceu e disse: “Durante quarenta anos vocês formaram um casal exemplar e amoroso, por isso vou conceder um desejo a cada um, e apontou sua varinha para a esposa. Fiel e amorosa, ela pediu um cruzeiro com todas as despesas pagas para uma ilha romântica do Caribe, para ela e para o marido. Imediatamente as passagens surgiram em suas mãos, para sua alegria e felicidade. Então a fada virou-se para o marido esperando seu pedido. O homem puxou a fada de lado e sussurrou: ‘Gostaria de ter uma mulher trinta anos mais moça que eu’. A fada franziu o nariz, agitou a varinha, e…plim, plim, o homem ficou com noventa anos.”

Esta fábula serve para ilustrar o resultado sempre infausto da ganância. Cobiça e ambição desmedida, têm levado não só indivíduos, como também nações, à ruína, ao desastre, à perdição, ao longo da história. Ainda no século passado, diversas nações, verdadeiros impérios, colheram os frutos amargos das tentações por ganhos territoriais, por riquezas minerais, pela exploração de populações inteiras e por posições geográficas estratégicas, que resultaram em desastrosas guerras fratricidas.

A coexistência pacífica das nações tem estado sempre pendente das atitudes egoístas de seus dirigentes, o que impede a convivência democrática, levando inevitavelmente ao sofrimento conseqüente de tais iniciativas diabólicas. Sistematicamente, tais nações são corrigidas, como o são os indivíduos, para que, idealmente, não venham mais a repetir tais erros. É-lhes por isso mostrada a conseqüência de suas atitudes inconseqüentes, materialistas, embora muitas vezes falsamente empreendidas em nome de Deus.

Miquéias, contemporâneo de Isaias, ambos tendo profetizado sobre problemas semelhantes entre aproximadamente 740 e 690 a.C. – o primeiro no interior e o outro na cidade – nos versos 1 a 5 do capítulo 4 de seu livro, registra texto praticamente idêntico a Isaias 2.2-4, fazendo uma descrição do reino milenar (Bíblia NTLH): ”No futuro, o monte do Templo do Senhor será o mais alto de todos, ficando acima de todos os montes. Todas as nações irão correndo para lá, e esses povos dirão: ‘Vamos subir o monte do Senhor, vamos ao Templo do Deus de Israel. Ele nos ensinará o que devemos fazer, e nós andaremos nos seus caminhos. Pois os ensinamentos do Senhor vêm de Jerusalém; é do monte Sião que ele fala ao seu povo.’ Ele será juiz entre muitos povos e decidirá questões entre grandes nações distantes. Os povos transformarão as suas espadas em arados e as suas lanças em foices. Nunca mais as nações farão guerra, nem se prepararão novamente para batalhas. Todos viverão seguros, e cada um descansará calmamente debaixo das suas figueiras e das suas parreiras. Esta é a promessa do Senhor Todo-Poderoso. As outras nações adoram e obedecem aos seus deuses; mas, quanto a nós, o Senhor é o nosso Deus, e nós o adoraremos e lhe obedeceremos para sempre.”

No capítulo 2, verso 1, encontramos uma das acusações de Deus contra os poderosos que seriam castigados por causa da injustiça, e que parece estar dirigida a certos líderes e políticos brasileiros dos dias de hoje, que por decisão “fechada” de seus partidos políticos, defendem questões sabidamente contrárias à vontade de Deus, mas que lhes rendem votos: “Ai daqueles que, no seu leito, imaginam a iniqüidade e maquinam o mal! À luz da alva, o praticam, porque o poder está em suas mãos.”

E Miquéias mostra o que Deus espera de nós no capítulo 6, verso 8: Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.”

Devemos defender e praticar a justiça, odiando o pecado e aplicando a Sua Palavra em tudo que fazemos.

O homem não pode continuar a cometer atos que façam o próprio Deus questionar: “Até quando serão eles incapazes da inocência?” (Oséias 8.5).

Senhor Deus e Pai, clamamos a Ti para que Teu agir junto a governantes e a governados deste país venha a produzir uma nação que ande humildemente conTigo, para que haja justiça com misericórdia. Assim oramos em nome de Jesus. Amém.

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Justiça e Paz

Thomas Andrews, construtor do Titanic, o maior navio de passageiros de sua época, no dia de lançá-lo ao mar respondeu de forma arrogante a uma repórter que o questionou quanto à segurança do navio: “Minha filha, nem Deus afunda este navio”.

O Titanic afundou em sua viagem inaugural, após bater num iceberg, matando mais de 1.500 pessoas, no maior naufrágio de um navio de passageiros em todos os tempos.

No Brasil, a classe política sempre revelou incontáveis candidatos a cargos eletivos que, na ânsia para angariar votos, nunca hesitaram em afirmar as mais deslavadas inverdades, a fazer as mais absurdas promessas e a proferir as mais arrogantes bravatas que ao longo dos mandatos jamais se cumprem. Como consequência inevitável, estupefatos, preocupados, consternados e enojados, hoje assistimos – graças ao desgoverno e à corrupção endêmica alojada em todos os níveis da política nacional por décadas a fio – o país mergulhado na pior crise da sua história. Sim, o Brasil-Titanic no qual estamos embarcados encontra-se seriamente danificado, arriscado de ir a pique, e a vida está repleta de exemplos de afirmações cheias de soberba, de heresias ególatras de pessoas que depois são desmentidas pelos acontecimentos subsequentes.

No entanto, o profeta Isaías no capítulo 32 de seu livro, versículos 1 a 8, traça um retrato do rei e do governo ideais, que no entanto só será plenamente concretizado quando o Messias vier novamente para estabelecer Seu justo governo sobre o planeta.

Vejam se não parece uma resposta maravilhosa, verdadeiramente de sonho, às nossas inquietações quanto ao presente político que vivemos. Diz ele, na versão da Bíblia de Estudo Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “Virá o dia em que um rei reinará com justiça e as autoridades governarão com honestidade. Todas elas protegerão o povo como um abrigo protege contra a tempestade e o vento; elas serão como rios numa terra seca, como a sombra de uma grande rocha no deserto. Então todos poderão ver claramente de novo e de novo ouvirão tudo facilmente; serão ajuizados, entenderão as coisas e poderão falar com clareza e inteligência. Ninguém dirá que um sem-vergonha é uma pessoa de valor, nem que o malandro merece respeito. Pois o sem-vergonha diz mentiras e está sempre planejando fazer maldades. O que ele diz a respeito do Senhor é falso; ele faz estas coisas que Deus detesta: nega comida aos que têm fome e água aos que estão com sede. O malandro faz trapaças; inventa mentiras para prejudicar a causa dos pobres, mesmo quando eles têm razão. Mas quem é direito faz planos honestos e é correto em tudo o que faz.” Mais adiante no mesmo capítulo, nos versículos 17 a 19, Isaias profetiza: “O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre. O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranquilos, ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.”

Sem justiça não pode haver paz, e a promessa profética é a de que no reino Milenar o justo viverá em paz, a tal ponto que sua habitação não será atingida, mesmo que tudo à sua volta seja totalmente destruído. Mas é necessário que façamos a nossa parte, como filhos de Deus, como servos usados por Ele para a construção do Seu Reino. Partindo deste pressuposto básico, essencial, como deveria ser nossa atitude como cristãos, para que influenciemos o nosso entorno, onde quer que estejamos – bairro, cidade, nação – de forma positiva e transformadora?

Deus tem como alvo de Seu agir tanto o céu como a terra. Isso está expresso nos ensinamentos dados por Jesus em Mateus 6.10, quando nos ensinou a Oração do Senhor: “…venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”. Davi, no salmo 24.1 e Paulo, em 1 Coríntios 10.26, disseram a mesma coisa:do Senhor é a terra. É sobre a terra que Deus imprime Seu amor, Sua justiça e Sua retidão, em cada nação. Jesus ensinou que a única maneira de se entrar no Reino dos Céus era por intermédio d’Ele, mas sempre colocou a salvação dentro do contexto da mensagem completa do Reino dos Céus. Ele nunca se referiu ao evangelho da salvação; Jesus ensinou o evangelho do Reino, contemplando não só a salvação como também as verdades sobre cada aspecto da nossa vida.

O teólogo e pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, certa vez afirmou: “Salvação sem discipulado é ‘graça barata’.” A experiente líder cristã e missionária Landa Cope em seu livro “Modelo Social do Antigo Testamento – Redescobrindo Princípios de Deus para Discipular as Nações” defende a tese de que as áreas da vida devem ser usadas estrategicamente para discipular as nações: o Governo, a Família, as Artes, a Educação, a Ciência, a Comunicação e a Economia, mas entende que também é necessário redefinir o papel da Igreja neste contexto.

Ela pede que oremos para que haja uma revolução global na Política e na Justiça Social, uma “explosão” de integralidade nos indivíduos e nas famílias; pede que oremos para que a glória de Deus seja revelada, e para que todos os cristãos do mundo sigam o que Francisco de Assis ensinou: é preciso dar testemunho de Deus todos os dias e, quando necessário, usar palavras.

Irmãos, na verdade Deus nunca muda; nós, o Seu povo, no entanto, necessitamos mudar, e muito.

Pai, cremos na Tua palavra e acreditamos em Ti quando dizes que queres abençoar todas as pessoas e usar a Igreja de Cristo para isso. Senhor, nos dias de hoje não estamos tendo o tipo de influência cristã que deveríamos ter, por isso ajuda-nos a enxergar o caminho que Tu desejas que trilhemos. Em nome de Cristo Jesus oramos agradecidos. Amém.

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Nossa Única Esperança

Quando Jesus iniciou seu ministério na terra, muitos eram os que tinham uma perspectiva política da promessa messiânica, nutrindo grande ambição de liberdade e independência do conquistador romano.

Jesus mais tarde – quando ressurreto e pouco antes de ser elevado às alturas – foi questionado pelos discípulos tal como está registrado em Atos 1.6: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?”

Ao que – em Atos 1.7,8 – Jesus retorquiu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”.

É claro, assim, que o projeto de Jesus para os Seus discípulos não é político; longe de se vincular às coisas da matéria, está permeado de um caráter essencialmente espiritual.

Isto não significa, no entanto, que Seus seguidores não devam exercer seus deveres de cidadãos, e não possam atender a responsabilidades de cidadania política, quando a tanto forem solicitados ou as oportunidades e a vocação surgirem. Mas não podemos esquecer o que Jesus disse em João 18.36: “O meu reino não é deste mundo.”

Como cristãos, não podemos deixar de reafirmar a centralidade da pessoa e da obra de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, a autoridade das Sagradas Escrituras, a busca da santidade e a ênfase na missão integral da Igreja. E não podemos esquecer que a missão prioritária dos cristãos e da Igreja é divulgar, proclamar, anunciar, compartilhar as Boas Novas da Salvação e da reconciliação com Deus, tendo como foco uma nova realidade global que ansiosamente esperamos, num futuro determinado pelo Senhor.

A história tem demonstrado repetidamente ao longo dos tempos, que a aliança e a conivência entre o espiritual e o secular inevitavelmente leva a descaminhos deletérios. Na qualidade de cristãos não podemos excluir a fé e o espiritual – no que representa relacionamento e intimidade com Deus – de qualquer área da nossa vida. A dimensão espiritual deve permear toda a nossa existência e estar presente em toda e qualquer área em que atuemos, contrariando a tese que alguns equivocadamente defendem de que a nossa vida é feita de dimensões separadas, a espiritual, a profissional, a familiar e a política, entre outras.

É preciso lembrar que no mundo vivemos em batalha espiritual permanente, e que por isso há um alto preço a pagar por procurarmos que a cidade dos homens reflita a cidade de Deus e não a cidade do diabo.

Calvino aprovava o engajamento político – não necessariamente partidário, mas cidadão – dos cristãos dizendo: “…não se deve pôr em dúvida que o poder civil é uma vocação, não somente santa e legítima diante de Deus, mas também mui sacrossanta e honrosa entre todas as vocações.”

Sabemos que o mundo nunca será perfeito antes do advento da Nova Jerusalém, mas é certo que poderá estar muito pior em razão da nossa omissão ou do nosso apoio aos egoístas de plantão que visam exclusivamente seus próprios interesses.  Ao contrário, devemos ter uma postura ativa atuando no ensino e esclarecimento e por meio de orações, intercedendo tanto em conjunto – na igreja, em grupo e em família – quanto individualmente como cidadãos, mas também por meio de movimentos e instituições cristãs, conscientizando, exortando e preparando para o exercício da política.

A ação política cidadã não deve se limitar ao partidário nem, muito menos, ao eleitoral, mas a uma atitude de responsabilidade, sensibilidade, disponibilidade e intervenção no cotidiano, traduzida em obediência à Palavra e testemunho de Cristo.
Nem direita ou esquerda totalitárias, nem direita ou esquerda autoritárias, nem sociedades altamente estratificadas dos poucos com muito e dos muitos com pouco, nem os modos de produção que concentram propriedade, renda, poder e saber, são congruentes com os valores do Reino de Deus, em que nós cristãos cremos, professamos, defendemos e promovemos.

Por isso é inimaginável, inaceitável, que sejamos coniventes com políticas e políticos que estejam a serviço exclusivo dos reinos da terra e de seus mesquinhos e egoístas interesses pessoais e de grupos.

Pai de misericórdia, ante um cenário político tão preocupante como o atual em nosso país, clamamos pelo Teu agir para que a iniqüidade e as forças do mal que o governam, sejam detidas em seus propósitos diabólicos, enquanto esperamos pela volta de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, nossa única, eterna e real esperança. Oramos suplicantes no Nome Santo que está acima de todo o nome. Amém.

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