setembro 2010

Nossa Única Esperança

Quando Jesus iniciou seu ministério na terra, muitos eram os que tinham uma perspectiva política da promessa messiânica, nutrindo grande ambição de liberdade e independência do conquistador romano.

Jesus mais tarde – quando ressurreto e pouco antes de ser elevado às alturas – foi questionado pelos discípulos tal como está registrado em Atos 1.6: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?”

Ao que – em Atos 1.7,8 – Jesus retorquiu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”.

É claro, assim, que o projeto de Jesus para os Seus discípulos não é político; longe de se vincular às coisas da matéria, está permeado de um caráter essencialmente espiritual.

Isto não significa, no entanto, que Seus seguidores não devam exercer seus deveres de cidadãos, e não possam atender a responsabilidades de cidadania política, quando a tanto forem solicitados ou as oportunidades e a vocação surgirem. Mas não podemos esquecer o que Jesus disse em João 18.36: “O meu reino não é deste mundo.”

Como cristãos, não podemos deixar de reafirmar a centralidade da pessoa e da obra de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, a autoridade das Sagradas Escrituras, a busca da santidade e a ênfase na missão integral da Igreja. E não podemos esquecer que a missão prioritária dos cristãos e da Igreja é divulgar, proclamar, anunciar, compartilhar as Boas Novas da Salvação e da reconciliação com Deus, tendo como foco uma nova realidade global que ansiosamente esperamos, num futuro determinado pelo Senhor.

A história tem demonstrado repetidamente ao longo dos tempos, que a aliança e a conivência entre o espiritual e o secular inevitavelmente leva a descaminhos deletérios. Na qualidade de cristãos não podemos excluir a fé e o espiritual – no que representa relacionamento e intimidade com Deus – de qualquer área da nossa vida. A dimensão espiritual deve permear toda a nossa existência e estar presente em toda e qualquer área em que atuemos, contrariando a tese que alguns equivocadamente defendem de que a nossa vida é feita de dimensões separadas, a espiritual, a profissional, a familiar e a política, entre outras.

É preciso lembrar que no mundo vivemos em batalha espiritual permanente, e que por isso há um alto preço a pagar por procurarmos que a cidade dos homens reflita a cidade de Deus e não a cidade do diabo.

Calvino aprovava o engajamento político – não necessariamente partidário, mas cidadão – dos cristãos dizendo: “…não se deve pôr em dúvida que o poder civil é uma vocação, não somente santa e legítima diante de Deus, mas também mui sacrossanta e honrosa entre todas as vocações.”

Sabemos que o mundo nunca será perfeito antes do advento da Nova Jerusalém, mas é certo que poderá estar muito pior em razão da nossa omissão ou do nosso apoio aos egoístas de plantão que visam exclusivamente seus próprios interesses.  Ao contrário, devemos ter uma postura ativa atuando no ensino e esclarecimento e por meio de orações, intercedendo tanto em conjunto – na igreja, em grupo e em família – quanto individualmente como cidadãos, mas também por meio de movimentos e instituições cristãs, conscientizando, exortando e preparando para o exercício da política.

A ação política cidadã não deve se limitar ao partidário nem, muito menos, ao eleitoral, mas a uma atitude de responsabilidade, sensibilidade, disponibilidade e intervenção no cotidiano, traduzida em obediência à Palavra e testemunho de Cristo.
Nem direita ou esquerda totalitárias, nem direita ou esquerda autoritárias, nem sociedades altamente estratificadas dos poucos com muito e dos muitos com pouco, nem os modos de produção que concentram propriedade, renda, poder e saber, são congruentes com os valores do Reino de Deus, em que nós cristãos cremos, professamos, defendemos e promovemos.

Por isso é inimaginável, inaceitável, que sejamos coniventes com políticas e políticos que estejam a serviço exclusivo dos reinos da terra e de seus mesquinhos e egoístas interesses pessoais e de grupos.

Pai de misericórdia, ante um cenário político tão preocupante como o atual em nosso país, clamamos pelo Teu agir para que a iniqüidade e as forças do mal que o governam, sejam detidas em seus propósitos diabólicos, enquanto esperamos pela volta de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, nossa única, eterna e real esperança. Oramos suplicantes no Nome Santo que está acima de todo o nome. Amém.

Share
0
0

Prosperidade e Decadência

Quando o profeta Oséias iniciou seu ministério, durante o reinado de Jeroboão II (782-753 a.C.), Israel vivia uma época de prosperidade material, contrastando com grande decadência espiritual, assim como ocorre nos dias de hoje em boa parte do mundo.

E Deus – para ilustrar vividamente a infidelidade do povo de Israel – ordenou ao profeta, como ele mesmo registra em Oséias 1.2 (Bíblia NTLH): “Quando o Senhor Deus falou pela primeira vez por meio de Oséias ao povo de Israel, ele disse a Oséias: — Vá e case com uma prostituta de um templo pagão; os filhos que nascerem serão filhos de uma prostituta. Pois o povo de Israel agiu como uma prostituta: eles foram infiéis e me abandonaram.”

O tema do livro de Oséias é o leal amor de Deus por Israel, malgrado a contínua infidelidade do povo, que é configurada pela experiência conjugal do profeta que, após casar-se com Gômer, descobriu que ela lhe era infiel. Embora ocorresse a separação, o amor de Oséias – assim como o amor de Deus por Seu povo – manteve-se, e por fim ocorreu a reconciliação.

E no capítulo segundo, versos 12 a 23 (Bíblia NTLH), o profeta usa de analogias com o amor conjugal para transmitir ao povo de Israel o Seu amor por ele e comunicar mensagem de amor, renovação, esperança e restauração: “— Vou seduzir a minha amada e levá-la de novo para o deserto, onde lhe falarei do meu amor. Ali, eu devolverei a ela as suas plantações de uvas e transformarei o vale da Desgraça em uma porta de esperança. Então ela falará comigo como fazia no tempo em que era moça, quando saiu do Egito. Mais uma vez ela me chamará de ‘Meu marido’ em vez de me chamar de ‘Meu Baal‘. Nunca mais deixarei que ela diga o nome Baal; nunca mais se falará desse deus. Sou eu, o Senhor, quem está falando. — Naquele dia, farei um acordo com os animais selvagens, com as aves e com as cobras, para que não ataquem a minha amada. Quebrarei as armas de guerra, os arcos e as espadas; não haverá mais guerra, e o meu povo viverá em paz e segurança. — Israel, eu casarei com você, e para sempre você será minha legítima esposa. Eu a tratarei com amor e carinho e serei um marido fiel. Então você se dedicará a mim, o Senhor. Naquele tempo, serei o Deus que atende: atenderei o pedido dos céus; os céus atenderão o pedido da terra, dando-lhe chuvas; e a terra responderá produzindo trigo, uvas e azeitonas. Assim eu atenderei as orações do meu povo de Israel . Plantarei o meu povo na Terra Prometida para que eles sejam a minha própria plantação. E eu amarei aquela que se chama Não-Amada; para aquele que se chama Não-Meu-Povo eu direi: ‘Você é o meu povo’, e ele responderá: ’Tu és o meu Deus’.”

A profecia de Oséias foi a última tentativa de Deus para levar Israel a arrepender-se de sua idolatria e iniqüidade persistentes, antes que Ele entregasse a nação ao seu pleno juízo. O livro foi escrito com o objetivo de revelar que Deus conserva Seu amor ao Seu povo apesar de sua infidelidade, e que deseja intensamente redimi-lo de sua iniqüidade. O Senhor também acena com as conseqüências trágicas que se seguem quando há persistência no desobedecer-Lhe, e em rejeitar o Seu amor redentor.
A infidelidade da esposa de Oséias é uma ilustração da infidelidade de Israel. Gômer vai atrás de outros homens, ao passo que Israel corre atrás de outros deuses. Gômer comete prostituição física; Israel pratica prostituição espiritual.

Apoiado em textos dos profetas Oséias e Isaías, Paulo em Romanos 9.25-29  mostra que qualquer um, judeu ou não, que exercer fé em Cristo, sai da condição de rebelde para integrar o povo de Deus.

O Velho Testamento deixa claro que a chamada dos gentios (não judeus) estava prevista séculos antes do nascimento de Jesus. Mas o ponto de partida para um oferecimento mais abrangente da salvação, foi a recusa dos judeus em reconhecê-lO como o Messias.

Deus não se esquece de uma só promessa que faz e quer que os salvos em Cristo sejam o sal da terra, fator essencial de conservação deste mundo. Deus é zeloso por seu povo, e se entristece quando substituímos nossa adoração a Ele por atrativos mundanos – fama, conhecimento intelectual, dinheiro, posses, poder, cargos, profissão, para citar apenas alguns. É como se uma esposa ou um marido traíssem seu cônjuge adulterando com outrem, daí a prostituição e o adultério serem tão condenados na Bíblia.

Hoje em dia há uma proliferação enorme de ídolos, como o culto à beleza, ao corpo, ao trabalho, aos amigos, ao prazer em suas diversas formas – tudo bem justificado e considerado natural pelo mundo. Examinemo-nos: estamos priorizando qualquer coisa em detrimento de nossa adoração a Deus? O alerta ao Israel do passado cabe hoje a nações outrora cristãs e que se acham desviadas, imersas em total mundanismo, seguindo muitos outros deuses.

Esse alerta é também para nós agora, em nosso país, em nossa cidade, em nossa casa.

Senhor, que reconheçamos que Tu estás sempre pronto a nos resgatar e ter-nos de novo em Teus braços, mesmo que tenhamos nos “prostituído” servindo a outros deuses modernos. Que nunca nos esqueçamos de que Tu estás sempre ao alcance da nossa oração, perdoando-nos e oferecendo reconciliação conTigo. Em nome de Jesus. Amém.

Share
0
0

Missões

Durante sua primeira viagem missionária, naquela sinagoga em Antioquia da Pisídia, Paulo falou ousadamente aos judeus locais, que tomados de inveja pelas multidões que eram atraídas pela Palavra de Deus que ele proclamava, blasfemando contradiziam ao apóstolo.

E ele então citou Isaias 49.6, dizendo-lhes o que Lucas registrou em Atos 13.47:”…Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra.” Este maravilhoso aceno que o apóstolo fez para os descrentes gálatas, é o mesmo que nós devemos fazer para todos os incrédulos da terra nos dias de hoje.

Mais tarde, na sua carta aos gálatas, já então constituídos como igreja de Cristo, o apóstolo volta a valer-se das promessas de Deus, desta vez a Abraão, citando sua chamada em Gênesis 12.1-3: “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção: abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.”

Este “deixa tua terra” foi mais tarde explicitado pelo Evangelho com o fundamental Ide de Cristo. Abraão não conhecia a meta nem as etapas que devia percorrer para alcançá-la. Mas, confiando no Senhor, foi.

Nos dias de hoje, quando um missionário deixa a própria pátria, seu objetivo é fazer com que Jesus Cristo seja conhecido e amado, e que o maior número possível de incrédulos seja salvo. Sua pátria é Cristo, no qual acredita; seu anseio é evangelizar para que todos em Jesus tenham vida, e a tenham em abundância (João 10.10).

Quando Deus chama, é necessário partir. Quem segue a Cristo não perde nada, só pode ganhar muitas vezes mais e herdar a vida eterna (Mateus 19.27-29). O missionário não evangeliza em seu próprio nome e poder, mas é um enviado de Deus, e somente o Seu chamado justifica a vida missionária.

Depois de Pentecostes, quando muitos daqueles sobre os quais o Espírito Santo havia sido derramado voltaram para suas cidades de origem e organizaram igrejas locais, surgiu o primeiro modelo de evangelização praticado pela Igreja.

Um segundo modelo foi implantado através de viagens com o fim específico de anunciar o Evangelho, ação em que Paulo e Barnabé foram pioneiros.

Um terceiro modelo começou a ser praticado três séculos depois, quando o imperador romano Constantino – percebendo o crescente número de cristãos em seu império – com grande oportunismo aderiu ao cristianismo. Isso levou ao processo de oficialização da igreja cristã, e favoreceu a criação deste terceiro modelo, que tinha como base a guerra. Sob o pretexto de pregar o Evangelho ou cristianizar um povo, era promovida a guerra de conquista, e o rei derrotado era obrigado a tornar-se cristão. O passo seguinte era obrigar todos os seus súditos a batizar-se.

Chegando às Américas – ao mesmo tempo em que dizimava povos e levava enormes riquezas a seus países de origem – a conversão religiosa justificava saques, mortes e a escravidão. Padre Antonio Vieira, notável jesuíta, dizia ser preferível ao africano ser escravo no Brasil, onde podia conhecer o evangelho, do que ficar na África onde fatalmente morreria pagão.

No entanto, com a Reforma Protestante, voltou-se à prática de missionar com o único interesse de proclamar o Evangelho.

Missão, antes de ter uma conotação humana que pressupõe ser tarefa da igreja, antes de ser da igreja, é de Deus. Se a missão é de Deus, então é d’Ele que a igreja deve depender para a sua participação. Isto implica numa profunda atitude de humildade e de oração para a capacitação missionária, numa postura de dependência confiante em Deus.

E se a missão é de Deus, temos toda a segurança de que é Deus quem está no comando da expansão do Seu Reino, de acordo com os Seus planos, o que nos dá, desta forma, plena convicção de que Ele realizará Seus propósitos.

A existência da Bíblia é a primeira evidência de que Deus tem uma missão, um propósito salvífico para este mundo. E como a origem da missão está em Deus – “no princípio criou Deus…” (Gênesis 1.1) – o fim dela está submetido à Sua misericórdia e graça – “A graça do Senhor Jesus seja com todos” (Apocalipse 22.21), e este propósito restaurador da missão tem uma dimensão universal.

Salvação e restauração permeiam a Bíblia, que descreve a missão de Deus começando com a criação dos céus e da terra, e termina com a restauração em novo céu e nova terra.

Mas o Senhor só virá novamente quando todos os povos, línguas, tribos e nações tiverem recebido o Evangelho do Reino (Mateus 24.14), para o louvor do Cordeiro de Deus (Apocalipse 5.9-14; 7.9-12). Entretanto o alcance da missão não se completa com toda a raça humana; também implica em que a igreja assuma a tarefa de mordomo sobre toda a criação. O alvo e o fim último da missão é a glória de Deus, não a atividade missionária em si, pois o desafio missionário existe e persiste porque o culto pleno a Deus ainda não é dado.

Estender a salvação para as nações é a suprema razão da obra missionária, e está firmemente fundada na iniciativa e na misericórdia de Deus, isto é, na sua soberania. Portanto, é por Sua iniciativa e obra que nós – os embaixadores de Deus – temos a responsabilidade e a motivação para anunciar tão Grande Nova.

A obra missionária começa e termina com o culto prestado à glória de Deus: começa, porque somente o culto genuíno e profundo pode motivar adequadamente a igreja a assumir sua vocação missionária; e termina, porque o alvo último e o fim principal de toda humanidade é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Senhor Deus, capacita-nos para a Tua obra missionária, para que possamos levar às nações o Evangelho da Salvação com a mesma alegria e exaltação que caracteriza o nosso culto a Ti. Em nome de Jesus é que oramos agradecidos. Amém.

Share
0
0