julho 2010

O Amor de Deus

“Deus é amor/Pois o amor vem de Deus/Amemo-nos uns aos outros/Pois o amor vem de Deus/Deus é amor!” canta o hino tão conhecido.

A Graça e o Amor de Deus estão inextricavelmente interligados no todo do Seu Ser divino: é por Seu Amor infinito que Sua Graça se manifesta, porém é só pela Sua Graça maravilhosa que nós – pobres mortais sem mérito algum – recebemos a dádiva do Seu imenso amor!

Graça (charis em grego) significa favor imerecido, cuidado ou ajuda graciosa, benevolência, mas a grande dádiva inserida na Graça de Deus é o amor por meio do qual ela opera, e de cuja dimensão incomparável podemos ter uma idéia através da passagem tão conhecida de João 3.16: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Nada pode ser comparado à grandeza do Amor de Deus. Seu Amor criou o universo, as galáxias, os sistemas solares, os planetas, as estrelas, a luz, os buracos negros, o homem, os micro-organismos…enfim, tudo o que existe é produto do Seu imenso Amor.

Davi, no Salmo 8, versos 3 e 4, expressa a disparidade total de escala daquilo que compõe a criação divina, colocando em seu devido lugar o homem frente a seu Criador e à Sua criação, e forçando-nos a nos recolher à nossa humilde insignificância: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres?”

Mas – apesar de que basta ao homem um simples olhar interessado e respeitoso à criação que Deus amorosamente fez para ele – o Seu amor para conosco continua incompreensível para os padrões, conceitos e valores humanos em um mundo tão voltado ao materialismo, ao utilitarismo, ao consumismo, à idolatria, ao individualismo, ao egocentrismo e a tantos outros ismos deletérios. Quem, devotado ao mundanismo, poderia compreender o que a Palavra de Deus afirma em João 15.13: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos”?

O mundo que Deus amou e pelo qual deu o Seu Filho é o mundo daqueles identificados pela graça da fé salvadora, “para que todo o que nele crê não pereça.” O texto literalmente menciona todo o que crê, referindo-se a determinadas pessoas segundo a sua natureza espiritual, isto é, aos crentes. Estes constituem o mundo que Deus ama, as ovelhas de Jesus Cristo, e que é composto de judeus e gentios (João 10.16). É por esse mundo, objeto do Seu amor, que Deus deu o Seu Filho. E é somente por esses que Jesus, em João 17.9, ora: É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus;” e continua no verso 20: Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra.

Através dessa oração Jesus pede por Seus onze discípulos crentes e também por aqueles que virão a crer. Ele ora por Seu povo, por aqueles que Deus amou. Eles pertencem a Cristo porque Lhe foram dados por Deus em Seu amor. O amor de Deus por Cristo é o fundamento, a fonte da salvação e da crença dos que crêem, e no verso 23  Jesus acrescenta, eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. Deus ama o Seu povo com o mesmo amor que tem por Cristo, que declara no verso 24 ser objeto de um amor eterno quando diz, “… porque me amaste antes da fundação do mundo”. Ou seja, assim como Deus amou Seu Filho com um amor eterno, da mesma forma amou Seu povo.

O amor de Deus em nós não é um dom, mas fruto do Espírito inserido na vida do verdadeiro cristão, como Paulo, em sua epístola aos Romanos 5.5, tão bem expressa: “Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” Por isso, sem a prática do amor entre os irmãos, estaremos agindo contra a vontade de Deus. O amor cristão é im­prescindível, e a Bíblia mostra­-nos que sem amor nada tem relevância, peso e expressividade, uma vez que todas as coisas se anulam pela ausência do amor. Tudo deve ser feito não ape­nas por amor, mas com amor. De que adianta ao crente ser dotado de todos os dons espirituais e até demonstrar auto-sacrifício, se ele não pratica o amor de Deus em sua vida cotidiana?

Sem o genuíno amor de Deus operando em nos­sos corações, os mais destacados dons tornam-se ineficazes. Enquanto os dons es­pirituais nesta vida são temporários, concedidos segundo os desígnios de Deus, o amor deve ser constante, permanente. Esse amor, que tanto revela a natureza de Deus (1 João 4.7-12), por certo predominará na glória. Os dons são repartidos entre todos os membros do corpo de Cristo, mas o amor não é dividido, e sim, distribuído para todos de igual modo. Portanto, quem não ama não é verdadeiro cristão (1 João 4.8; Romanos 5.5,8).

Mas é no capítulo 13 de 1 Coríntios que a Palavra de Deus revela a grandeza do amor cristão, marcado pela total ausência de interesse pessoal e pela busca permanente do bem do próximo. Mais que simples emoção, é princípio de ação; trata-se de fazer pelos outros por compaixão a eles, e não por afeição; é sinal indelével que marca o verdadeiro discípulo de Cristo, e se caracteriza por alguns aspectos essenciais:

é sofredor. Ele faz com que uma pessoa suporte danos pessoais causados por alguém, sem ressen­timento ou retaliação;

é benigno. O amor de Deus em nós vence o mal com o bem. “Amai a vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam” (Lucas 6.27);

não é invejoso. Quem ama com o amor de Deus, nunca se deixa levar por ciúmes, não alimenta má vontade, malícia ou mau humor;

não é leviano. Quem ama com amor no Espírito (Colossenses 1.8) não julga ou procede precipitadamente, e nunca proclama suas próprias virtudes, procurando chamar a atenção para si, mas sempre procura fazer o melhor por seu semelhante, atribuindo sempre toda a glória a Cristo;

não é soberbo. O amor não é orgulhoso, arrogante, presun­çoso, exibicionista, extravagante. Quem ama não busca a própria honra, não trata os outros como inferiores (Mateus 20.26-28), nem faz alarde de sua própria “humildade”;

não é indecoroso. O amor nunca se porta com indecência, desonra, despudor ou imoralidade. O crente jamais pode ser vulgar, descortês ou cínico. O verdadeiro amor nunca envergonha, fere ou humilha o ou­tro, mas sim busca o bem-estar de todo o corpo de Cristo;

não é interesseiro. O amor não busca seus próprios interesses. Ele não é cobiçoso, egoísta, avarento, e não pensa antes de mais nada em si mesmo;

não se irrita. O amor não se enfurece, a despeito das circunstâncias. O crente que tem o amor do Pai se man­tém sob controle, em oração, mesmo quando tudo parece fora de controle;

não se ressente do mal. O crente autêntico não guarda ressentimen­tos, sempre perdoa e não guarda rancor (CoIossenses 3.13);

não se regozija com a injustiça. O amor que provém de Deus não folga com o mal ou com o infortúnio dos outros;

compraz-se na ver­dade. Aquele que tem o amor de Deus em seu coração, está sempre do lado da verdade, mesmo quando ela lhe traz algum prejuízo;

tudo sofre, crê, espera, suporta. O amor sempre defende, confia, tolera e persevera. O amor que flui de Deus para nós é obediente, fiel e esperançoso. Existem três fluxos de amor verdadeiro:

O primeiro é do amor de Deus para com o homem. Em João 3.16 a Bíblia afirma que Deus nos amou sem reservas, com amor sacrificial: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito…”.

O segundo é do amor do homem para com Deus. Amar a Deus é um man­damento estabelecido no livro de Deuteronômio: Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.” (6.5), e “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, e todos os dias guardarás os seus preceitos, os seus estatutos, os seus juízos e os seus mandamentos” (11.1).

O terceiro fluxo é do amor do homem para com o próximo. Nosso amor ao próximo é também um mandamento divino que permeia a Bíblia (Levítico 19.18; Romanos 13.8-10). Mas quem é o meu próximo? A esta pergunta, feita a Jesus por um doutor da lei em Lucas 10.29, o Senhor responde nos versos 30-37, fazendo com que aquele homem refletisse e então respondesse a si mesmo.

O amor de Deus entre crentes é a virtude ou o predicado supremo que não substitui os dons, mas que significa “um caminho sobremodo excelente” (1 Coríntios 12.31b) para o exercício dos dons. E em 1 João 4.10-11, o evangelista nos mostra o amor que devemos nutrir, de forma cabal e definitiva: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros.”

Senhor, rendidos a Teus pés queremos suplicar-Te que nos alcances com Teu amor inexcedível. E que por mais que nossa pecaminosidade constitua-se em obstáculo, que possamos aprender a amar como Cristo nos amou, para que amemos a Ti e a nossos irmãos de acordo com a Tua vontade. No nome santo do Senhor Jesus oramos agradecidos. Amém.

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